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DEPÓSITO LEGAL – COLEÇÃO MEMÓRIA NACIONAL

O Depósito Legal - Leis N. 10.994, de 14/12/2004 e N. 12.192, de 14/01/2010 - é definido pelo envio de um exemplar de todas as publicações produzidas em território nacional, por qualquer meio ou processo. Tem como objetivo assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional. Nele estão inclusas obras de natureza bibliográfica e musical. A primeira instituição e regulamentação do depósito legal brasileiro foi o decreto imperial N. 433 de 3 de julho de 1847. O segundo é o de nº 1825, sancionado em 20 de dezembro de 1907, pelo presidente da república Affonso Penna (Affonso Augusto Moreira Penna, 1847 - 1909). Na época não existia a figura do editor de livros e a tarefa do depósito legal era de responsabilidade dos proprietários das oficinas gráficas. Monteiro Lobato (José Bento Renato Monteiro Lobato, 1882 – 1948), talvez tenha sido o primeiro editor brasileiro que imprimiu livros por conta própria, nas oficinas do jornal “O Estado de S. Paulo”, seu livro Urupês, coletânea de contos e crônicas, em 1918. Talvez tenha sido também o primeiro distribuidor de livros ao usar o serviço dos agentes postais do Brasil para distribuir sua obra em bancas de jornais, papelarias, armazéns e farmácias, além das 30 livrarias existentes na época.

João Scortecci

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COPYRIGHT E O ESTATUTO DA RAINHA ANA

O uso pela primeira vez do termo “copyright” data de 1701, na Stationers Company (Worshipful Company of Stationers and Newspaper Makers), companhia real inglesa, que detinha o monopólio da indústria editorial e era, oficialmente, responsável por estabelecer e fazer cumprir os chamados regulamentos de reprodução e venda de obras literárias, até a promulgação do “Estatuto da Rainha Ana”, de 10 de abril de 1710. Foi a Rainha Ana (1665 – 1714) que uniu em um único estado soberano a Inglaterra e a Escócia, no chamado Reino da Grã-Bretanha. Existem correntes que sujeitam o nascimento do direito de autor à invenção da imprensa, na Europa, no século XV, criada a partir da invenção da prensa de tipos moveis pelo alemão Johannes Gutenberg. É sabido que muito antes da invenção da imprensa na Europa, a China e a Coréia, já contavam com técnicas de impressão e não se pode esquecer, também, que já havia noções de propriedade intelectual na Roma Antiga. No final do século XIX, na Suíça, vários Estados, assinaram o primeiro acordo multilateral sobre a Proteção das Obras Literárias e Artísticas, na chamada “Convenção de Berna” de 9 de setembro de 1886. A Convenção foi revista em Paris (1896) e Berlim (1908), completada em Berna (1914), revista em Roma (1928), Bruxelas (1948), Estocolmo (1967) e Paris (1971) e emendada em 1979. Desde 1967 que a Convenção é administrada pela World Intellectual Property Organization (WIPO), incorporada nas Nações Unidas em 1974. No Brasil, a Lei n. 9.610 de 19/02/1998 regula os direitos de autor. Esse direito exclusivo do autor (art. 5. º, XXVII, da Constituição Federal de 1988), constitui-se de um direito moral (criação) e um direito patrimonial (pecuniário) de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar. No Brasil – país signatário da Convenção de Berna pelo Decreto Legislativo nº 94, de 4 de dezembro de 1974 - uma obra entra em domínio público após 70 (setenta) anos, contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao falecimento do autor ou do último coautor, se houver. Via de regra, o domínio público refere-se tão somente aos direitos patrimoniais do autor, não se aplicando aos direitos morais, os quais são imprescritíveis. O espírito humano agradece!

João Scortecci


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VOVÓ SARAH E AS TRIPAS DA RAZÃO

Eu desconfiava. Na verdade, sabia e não sabia. Vovó Sarah – isso nos anos 1960 – havia dito, repetido, teimado, mais de mil vezes. Eu, na época, não a escutava. Pensava: Vovó Sarah está caduca! Dizia ela, sempre: “Quando você está enfezado – não importa com o quê – vá ao banheiro e resolva o seu problema!” Risos. E “imaginar” que tem gente que fica três ou mais dias entupido das tripas. Não gosto nem de pensar. Vovó Sarah era uma mulher incrível. Nasceu no século retrasado, no ano de 1894. Dizia que na adolescência esteve com a Princesa Isabel e o Conde d'Eu, em Baturité. Quando? Onde? Não sei. Lendo matéria na “Folha de S. Paulo”, no blog Ciência Fundamental, do jovem mestre e doutor em bioquímica, Eduardo Zimmer, pude, finalmente, dar ouvidos, as pertinências de Sarah: “O intestino pode ser seu segundo cérebro”. O jovem Zimmer começa o seu artigo mencionando o filósofo e polímata da Grécia Antiga, Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.), que afirmava que o “coração” era o órgão responsável pela consciência e que o cérebro era uma espécie de radiador que servia para resfriar o coração. Que doideira! Hoje, as neurociências afirmam outra coisa: “o cérebro é quem coordena funções cognitivas e automáticas, como os batimentos do coração e a respiração”. Zimmer, diz, ainda, com propriedade, que novos estudos têm posto em dúvida a condição “única e egoísta” do cérebro (Eu desconfiava!), como regente absoluto e primário do universo do corpo humano. Aqui cabe uma piadinha antiga: “Quem é mais importante no corpo humano: o cérebro, o coração ou o ânus?” Cérebro e coração protestaram: “Somos nós!”. E ainda, de passagem, humilharam o pobre do ânus, por ser porta dos fundos e feio. Enfezado, o ânus, travou - de vez – isso depois de um banquete. Vingança! Crueldade com os seus irmãos de sangue. O que aconteceu, então, a neurociência explica: o cérebro pirou, queimou neurônio, transpirou, e o coração desapaixonou-se de tudo, perdeu o compasso, acelerou-se e saiu, literalmente, pela boca. No sétimo dia, então, o ânus descansou, feliz, no trono dos justos. O intestino, depois de estudos científicos, tem sido chamado de “o segundo cérebro”, devido à abundância de células nervosas vivendo em suas tripas. Os neurônios intestinais mantêm uma ligação direta com o cérebro, causando profundo impacto no nosso comportamento. Cérebro e intestino trabalham juntos e ditam nossos pensamentos e ações. Existem, ainda, evidências científicas de que as bactérias intestinais – perto de 100 trilhões de microrganismos vivos – comandariam o sistema nervoso e central do nosso ecossistema. Para concluir, segundo Zimmer: “As bactérias intestinais – talvez – atuem como o indivíduo oculto que, por meio de cordéis, manipula as marionetes ou fantoches – nós, no caso.” Vovó Sarah, era mulher sabe tudo. Tento - com amor e aos poucos – lembrar de todos os seus sábios ensinamentos. Outro dia, lembrei-me de outro: “João, não tenha medo dos mortos, tenha medo dos vivos”. Pai, livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a Vossa paz. 

João Scortecci


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DEMOCRACIA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Democracia sempre! Deixando de lado o conceito utópico de democracia como lugar ou estado ideal de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos, sabemos que, sem eleições livres, crescimento econômico, distribuição de renda, justiça social e segurança jurídica, esse regime político não existe ou morre. E mais: sem o respeito à propriedade intelectual, à criação individual e coletiva, ao direito do autor e, principalmente, sem ética empresarial, dentro do setor de atuação bem como diante de clientes e concorrentes, ela – a democracia – não funciona, não se distribui renda e não se exerce a justiça social, inviabilizando direitos e deveres da cidadania. Depois dos anos 1970, o País passou por uma desindustrialização feroz e criminosa. A indústria – a Nova Indústria Brasil –, seguindo o modal das economias do planeta, passa por profundas transformações, priorizando-se valores da sustentabilidade, da responsabilidade social e da transparência (ESG), frente às novas tecnologias, às ferramentas de serviços autônomos e à inteligência artificial. Os desafios são imensos. Para muitos, são devastadores. É quando o pensamento criativo e justo do construtivismo com responsabilidade, obriga-nos a pensar, analisar e refletir sobre o momento singular e crítico. O uso de ferramentas de serviços autônomos e da inteligência artificial ocupa, no momento, o âmago da indústria global, com incertezas e medos: estado emocional em resposta à consciência perante uma situação de perigo. Estamos em perigo? Talvez. O medo é um sentimento normal que nos protege em situações de perigo. O medo também pode nos impedir de buscar, sempre, a completa felicidade e a harmonia entre os indivíduos, mesmo que isso seja utópico, impossível e humano. Restam-nos, então, inteligência (humana), responsabilidade e coragem. Ao trabalho!

João Scortecci

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RAIMUNDO, O CHUPA-CABRA SILVESTRE

Da imortalidade. Já disse e repito: gosto de palavras novas, até então: desconhecidas! Encontrei “decrepitude”, que significa estado ou condição do que é ou está decrépito, estado de adiantada velhice. Caducidade! Anotei no bloco de notas e morri, no sofá da sala. Acordei – coincidência? – escutando no rádio um jurista com sotaque nordestino falando sobre caducidade: estado daquilo que se anulou ou que perdeu valia. Algo assim. Liguei o PC e abri - finalmente - minha caixa de e-mails, temporariamente, esquecida. Soube então do lançamento do cordel “Raimundo, o chupa-cabra” que conta a história de um vate do baixo Jaguaribe, nascido no sertão do Ceará, já idoso, na casa dos 70 anos, doente dos chifres e alérgico, a sangue humano. Tragédia! Na nota de divulgação da obra a seguinte nota: “Raimundo havia provado sangue humano - uma única vez na vida - e quase morreu de nó nas tripas”. História triste! Raimundo, até então, viveu de sangue de cabras, galinhas, ratos e morcegos silvestres. História infantil? É o que diz o release. O desejo de Raimundo – lendo a sinopse sobre a obra – era tornar-se um verdadeiro vampiro de sangue humano. Frustrado e abandonado pela mulher Das Dores – amor de infância – havia se mudado para Brasília, Capital Federal, em busca de cura, sorte e quem sabe, um novo amor. Pedi – no corpo do e-mail - que me enviassem, então, um exemplar da obra, para análise e publicação de nota no blog Amigos do Livro. Decrépito, aguardo, então, a chegada do cordel vampiresco. Caducidade sem valia! Poética ruim, eu sei. Juro: foi o melhor que consegui. Perdão. Deve ser efeito da vacina de hoje cedo, contra gripe. Ganhei uma picada de beija-flor, com traços de chupa-cabra do Jaguaribe. O braço dói. Acho que cheguei, finalmente, no melhor da minha caducidade, sem valia.

João Scortecci



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O SONO DA ESCURIDÃO

Não existe o sono. Ainda. Uma hora ele chega e me pega, de vez. Nossa existência - de chegada e partida - vive de brevidades. Ele chega e eu me dou, simples assim. Inteiro. Perdido e entregue às totalidades do corpo. Exausto. Imagino o depois: passagem do bastão, entrega de responsabilidades, troca de guarda. Pela boca de um funil de luz - eu viajo. Corpo e alma voam. Energia pura. Muita luz. O Eu etéreo navega, corre, luta, ama e explode. Exausto e ainda por alguma razão de deus: retorno. Até quando? O sono não existe. Ainda. Só o aceito em mim por sedução. Não há fraqueza sem os pecados. Não há brevidade sem a vida. Não há luz sem a escuridão do amor. 

João Scortecci


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OLHAR PARTIDO EM TRÊS

Das reservas do olhar. O olhar - ato contínuo - em três instantes únicos: olhar, se olhar e se ver. Primeiro, o olhar para fora. Tempo de descobrir o bem e o mal, de conhecer sóis e luas do universo, explorar águas, cheiros, ventos, ideias, sabores e medos, arriscar desejos e arrepios, desafiar existências, rebelar-se, jogar alianças, encontrar almas e espíritos, compartilhar-se e então, partir. Adiante. Depois, segundo instante contínuo - o se olhar. Espelhos, fotos rasgadas, encontros perdidos e atitudes estranhas. Época das diferenças relativas, das opções incomuns e dos segredos do corpo. Do ventre. Dos filhos. Madurar-se! Olhar-se - inteiro - e partir. Depois, contínuo instante do depois, se ver, finalmente. Olhar para dentro e a si mesmo. Conjurações. Fantasias perdidas, esperanças negadas, injustiças, despedidas e outras partidas, sempre. Até felicidade! Vazio, dor e arrependimentos. Apurar-se! Sobreviver das fraquezas, o que vive recordar, o que acalma, o que salva o coração. Até saudade! Das proposições do olhar: ato contínuo - partido em três - e seus mistérios de morte. Até viver!  

João Scortecci


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FRASES “DE EFEITO” QUE NA VERDADE NÃO DIZEM NADA

Lendo artigo sobre “o que está acontecendo com o mundo”, encontrei a seguinte frase: “Vivemos uma realidade objetiva por definição!”. Perdão. Não entendi. Vamos lá! Esmiuçando o imbróglio: Viver: “ter vida; estar com vida”. Realidade: “o que realmente existe; fato real; verdade”. Objetiva: “característica da pessoa que é clara naquilo que diz; que não enrola; que vai direto ao ponto”. Definição: “exposição com precisão; explicação clara e breve; apreço ou a essência de algo”. Agora juntando tudo. Proposta 1: “Fato real, daquilo que muito se diz, de expor com precisão!”. Piorou. Proposta 2: “Verdade que realmente existe, com apreço e essência de algo!”. Complicou. A criatividade é algo perturbador e, muitas vezes, incapaz de produzir algo que faça sentido. Agora: Eu aqui tentando “não dizendo nada”. Décadas atrás – na época aluno de Ciências Econômias no Mackenzie, em São Paulo – recebi de um amigo de classe, numa folha de papel, um esquema, com quatro colunas e em cada uma delas 10 frases de efeito, que na verdade não diziam nada. “O que faço com isso?”, perguntei. Resposta, do amigo, hoje jornalista econômico de um grande jornal: “Ajuda você na hora de formatar um texto em economês - jargão próprio dos economistas. E mais: os professores adoram!”. Guardei o esquema. Na verdade guardei e depois perdi. Outro dia – lembrei do esquema – e resolvi procurar na Internet. Quadro mágico, algo assim. Encontrei outro, que lembrava – mais ou menos – o de 45 anos atrás. Resolvi testar. Formulei, então, duas frases impróprias, ruins de tudo, no jogo do mexe-mexe e suas infinitas possibilidades: Teste 1: “A experiência mostra que /a execução deste projeto /prejudica a percepção da importância /dos índices pretendidos.”. Teste 2: “É fundamental ressaltar /o novo modelo estrutural aqui preconizado /que nos obriga à análise /do nosso sistema de formação de quadros.”. Anotei. Quanto ao artigo sobre “o que está acontecendo com o mundo”, aqui com os meus verbos: “O caos /na expansão das nossas atividades /cumpre papel essencial na formulação /das novas proposições. Viver é isso. Ou quase isso: incompreensão total.

João Scortecci

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ÁGRAFO, O POETA FILÓSOFO DO BAIRRO DE PINHEIROS

Ágrafo era um “grafo”. Mutável e finito. Um poeta da oralidade: do estado oral. Seus versos nunca – em tempo algum – foram escritos e – muito menos – impressos. Tudo ficava na cabeça de doido. Tinha memória de elefante! Era filho de um polímata, de nome Arquimedes, e de D. Vértices, uma récita. Ágrafo gostava de declamar poesias. Durante muitos anos, Ele e Vértices, fizeram parte da trupe das palavras soltas, do Largo da Batata, do bairro Pinheiros, na capital paulista. O grupo fez história no bairro. Viviam - pilhados - no pátio e no estacionamento do Mercado de Pinheiros. Quando dava: eu ia lá declamar junto. Eu o chamava de “poeta filósofo”. Depois que Vértices, sua mãe, morreu - de nó nas tripas - Ágrafo calou-se de tristeza e foi embora de tudo. Perdeu-se! Bebia e usava drogas. Arrombava carros como ninguém. Vez por outra abria o meu carro, um Monza Hatch, que ficava estacionado na Rua Mateus Grou e dormia no banco de trás. Ágrafo – poeta que nunca teve representação escrita – morava num cortiço da Rua Cardeal Arco Verde, cheio de escadas e portas, próximo à Praça Benedito Calixto. O local não existe mais. Foi demolido. Ágrafo esteve preso, ficou em cana alguns meses. Depois soltaram. Na época comercializava filmes de DVD pirata, numa barraca de camelô, na Rua Teodoro Sampaio. Voltou magro e doente. Ágrafo adorava histórias da Grécia Antiga. “Paideia! Paideia!” Gritava e resfolegava - sempre - nos seus versos de rua. O termo "paideia" deriva da palavra grega "paidós" (“criança”) e significa algo como a "educação das crianças" e a formação de um cidadão perfeito e completo, capaz de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na sociedade. Algo assim. Certa vez, insisti para que publicasse um livro solo, com seus melhores poemas. Disse-me: “Não!” Justificava, sempre: “Gosto da oralidade da vida.” Num sábado de julho, bêbado, caiu e rolou do alto da escada, bateu a cabeça no portão de ferro do cortiço e sangrou, até à morte. Ligaram-me da delegacia. Não tinha consigo documento algum, apenas o meu cartão. Ágrafo – o poeta filósofo – foi enterrado como indigente. Tinha trinta e poucos anos e, no sangue, o domínio da oralidade poética. Mutável e finito. Relendo sobre a Grécia Antiga reencontrei no texto o conceito de “Paideia” e, adiante, no melhor das lembranças, o poeta Ágrafo, filho de Arquimedes e Vértices. Bons tempos! Pinheiros – depois de 42 anos – anda triste, diferente e vertical. Os sobrados – os poucos que ainda restam – estão sendo demolidos. Os amigos poetas morreram desta vida. Eu - teimoso que sou - continuo sóbrio e renitente, fazendo da vida - de doido - um poema sem-fim.


João Scortecci


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O FANTASMA DA MULHER DE BRANCO COM ALGODÃO NA BOCA

No ano de 1976, servi como soldado motorista na CCS-PT, do 2º Batalhão de Guardas (BG), no Parque Pedro II, em São Paulo – Batalhão de Elite do II Exército. Meu primeiro “trampo” foi no P4, guarita que ficava no pátio do Pelotão de Transportes. Depois fui escalado – algumas vezes – para o P5, portão de entrada e saída das viaturas militares do BG. Duas ou três vezes, puxei serviço na 3ª CIA, na Rua da Independência, no bairro do Cambuci, onde também funcionava o Hospital Militar. Meses depois, virei “peixe” (soldado protegido) do Sargento Leandro, responsável pela escala de serviço, que passou, então, a me escalar sempre para QG do II Exército, no Parque do Ibirapuera. A história aconteceu na 3ª CIA, numa noite escura e misteriosa. Alguém deu o aviso: “Cuidado com o fantasma da mulher de branco com algodão na boca!”. Eram 2h30 da madrugada, quando o fantasma apareceu. Susto! Desceu a rampa do morro do Cambuci – não andava, flutuava –, passou pelo portão da guarda, parou na calçada em frente, espiou o vazio da rua e me encarou. Gelei. Cabelos longos, loiros, pálida, camisola branca, descalça, com uma mecha de algodão na boca. Engatilhei o FAL – Fuzil Automático Leve – e mirei na cabeça dela. “O que foi, soldado?” Era o tenente de serviço, responsável pela guarda da noite. “O fantasma da mulher do algodão! Apontei. Nada. Ela havia sumido”, respondi. “Já vi uma vez. Fica calmo. Ela é do bem. Filha de um Coronel da reserva que morreu no hospital militar!”, explicou. Virou as costas e foi embora, rampa acima, até o posto da guarda. Mantive o FAL engatilhado, até ser rendido, às 4h, pontualmente. Durante o dia, voltei, mais duas ou três vezes, à 3ª CIA do BG. Uma delas foi para transportar para a cadeia um soldado armeiro, que havia roubado uma pistola do Exército. Segundo soube, desmontou a pistola e a levou, peça por peça. Um dia descobriram e, antes de ser expulso, pegou “cana” de alguns meses. Cumpriu sua pena na cadeia da 3ª CIA, no Cambuci. A cadeia – num porão escuro, sem janelas – tinha a altura de 1,20 m. Um buraco, literalmente. O preso não podia ficar de pé. Era obrigado a ficar de cócoras ou deitado no chão frio. A cena, até hoje, quase 50 anos depois, ainda, às vezes, mexe com meus miolos. Quanto ao fantasma da mulher de branco com algodão na boca, descobri que não fui o único a vê-la. A moça era popular no pedaço. Sua presença volátil, nos anos de chumbo, ajudava a matar o tempo, espantava os pesadelos da noite e escrevia o ano de 1976.

João Scortecci          


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DESÍGNIO TROADO DE OUTONO

“ Desígnio” é uma palavra bonita. Seu significado: mais ainda! Significa: intenção de fazer algo nobre, importante, marcante e inesquecível. Intuito do desígnio! É o máximo. Fim que se tem em vista, no olhar. No faz de contas: sujeito de bem com a vida, inteligente, lúcido, capaz, seguro de si e bem intencionado com uma missão impar, nobre, de grande impacto social e cultural, iluminado e escolhido por deus. Tudo doideira. Hoje a noite foi assim: acordei com “intuito do desígnio” no corpo e no coração do poeta. Febre? Talvez. Coceira na cabeça? Não. Vontade de lamber o chão? Também não. Já sei: paranoia? Quase. Intuito do desígnio do delirante depressivo. Existe isso? Incerto. Coisa de paralelepípedo no pescoço, caco de vidro no pé descalço, tapa no ouvido da loucura. Conselho de vovó: Toma um chá e dorme. Quem disse isso? O outro do eu mesmo. Tolo. Então troa de vez. Troa poesia, troa alma, troa. Na dúvida: clama, brada, grita. E depois: silêncios.  

João Scortecci


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O PESCOÇO E O MARKETING CORPORAL

No pescoço pendura-se de tudo! Colar, chave, crachá, óculos, sino, placa, estetoscópio, caneta, bolsinha medicinal, cachecol, gargantilha, terço, isqueiro, aviso, medalha, apito, celular, melancia e escapulário. Lista incompleta, com certeza. Lendo sobre marketing corporal o item “pescoço” está no topo da pirâmide, perde, apenas, para as mãos e os pés. Tudo que você “pendura” no pescoço aparece e é visto! Na infância era comum escutar a máxima: “Pescoço só serve para segurar a cabeça e passar a corda da forca”. Prática em desuso. Creio. O último, que eu saiba, a usá-la, foi Saddam Hussein. Ficou - na lembrança, apenas - o “jogo da forca” jogado e rabiscado nos cadernos da escola. Quem perdesse pagava no intervalo o picolé de uva. Uso o pescoço para pendurar os óculos, canetas e crachás. Guardo, depois, os cordões dos crachás: sempre úteis! Tenho uma gaveta “abarrotada” deles. A expressão “pendurar uma melancia no pescoço” é antiga. Denota uma pessoa que gosta de aparecer. Um exibido! Dizem: “fulano parece que pendurou uma melancia no pescoço”. E por fim, pescoço com escapulário, do latim scapula, armadura, símbolo que representa fé e proteção. Consiste em um cordão, com duas peças – tecido, metal, madeira, pedra preciosa - penduradas no peito e nas costas. Escapulário – amuleto - serve de proteção contra o mal. Não se compra um escapulário para uso pessoal. Precisa ser presente. Tenho o meu guardado. Nunca o pendurei no pescoço. Não pode ser retirado do pescoço, ao menos que ele se rompa, naturalmente. Isso, talvez, explique nunca tê-lo colocado de vez no pescoço. Um dia, talvez. Foi presente. Junto com o escapulário de Nossa Senhora do Carmo veio uma imagem de São Jorge, soldado romano do exército do imperador Diocleciano, mártir cristão, que protege, desde 1986, a Gráfica Scortecci. Quando um funcionário novo entra na gráfica faço questão de apresentá-lo: “São Jorge está de olho você! Funciona. Isso tudo para dizer que hoje acordei com dor no pescoço. Mau jeito? Talvez. No receituário dos pecados mortais: Invídia. Na dúvida: Mãe, adornai a minha alma de poeta.

João Scortecci


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TUDO EM FAMÍLIA: TRAGÉDIA GREGA NO MONTE OLIMPO

Tragédia Grega no Monte Olimpo. Cronos, deus do tempo e o mais forte dos titãs, era comunista, das antigas. Devorador de criancinhas. É o que dizem. Comeu seus próprios filhos! Escapou da gula antropofágica apenas o primogênito Zeus. Zeus, o deus dos deuses, foi salvo por Gaia, a mãe terra, a pedido de Reia, sua mãe. Gaia - esperta que só a natureza - elaborou um plano diabólico e com sorte: poupou Zeus da fúria de Cronos. Zeus - um galo incansável - casou-se com Métis, deusa da prudência, que lhe deu a filha Atena, deusa da sabedoria, da guerra e da beleza. Zeus - imprudente com as coisas do coração - logo trocou Métis por Têmis, deusa da justiça, com quem teve as filhas Moiras e Horas. O casamento dos dois durou pouco. Dizem que Zeus ainda se casou mais cinco ou seis vezes. Zeus - imaturo e inseguro - nunca superou o trauma de ter um pai antropofágico e comunista. Zeus - já velho e doente - casou-me ainda mais uma vez, com Mnemósine, deusa da memória, que o fez esquecer-se de tudo, inclusive das farras no Olimpo. Do seu casamento - o mais cultural de todos - nasceram Clio, musa protetora e inspiradora da história, Euterpe, da música, Talia, da comédia e poesia e Urânia, da astronomia. Moral da história: o culpado de tudo foi Cronos o mais forte dos titãs. Graças a Deus!

João Scortecci


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AKASHA E O PENTAGRAMA DA ESTRELA

No espaço do cosmo - Akasha, amuleto do universo - proteção contra os demônios do inferno. Uma estrela - belíssima - guardiã da noite, deusa da boca do buraco de minhoca. Adoro minhocas, já disse isso. Acordo foguete ferido e navegante de mapas! Astronauta? Talvez. Meu espírito voa, no corpo abrasador até o colar das cinco pontas. Nau, marujo e capitão. No céu de Akasha sinais do universo: imensidão! Akasha, éter e fluido cósmico do pentagrama da vida! Amuleto. Éter do hausto divino. Casulo - cápsula de barro e tempo - onde dentro guarda-se o graal da humanidade. Cálice da Última Ceia. Cálice dos primórdios – quando tudo ainda era nada – até, então, fusão do magma do princípio e do fim. Akasha, quem somos? Akasha, de onde viemos? Akasha, para onde vamos? No destino: Ar, Fogo, Água, Terra. E mais adiante: audição, visão, tato, cheiro e paladar. E Akasha, então, responde: nascimento, infância, maturidade, velhice e morte. Pentagrama? Não. Estrela. No cosmo - o amuleto - proteção contra os demônios da inveja. Na figura do pássaro selvagem - aquele que devora minhocas - o éter do hausto divino que voa e voa, distante. Pássaro da noite? Não. Dois mundos: Estrela e Céu.  

João Scortecci


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DOAÇÃO DE LIVRO: ESTÁVAMOS ESPERANDO POR ELE!

O projeto LIVROS PARA TODOS nasceu dentro do Portal AMIGOS DO LIVRO – do Grupo Editorial Scortecci –, endereço Web, desde 2001, para estudo, pesquisa, divulgação e promoção do livro e do hábito da leitura. O objetivo do projeto LIVROS PARA TODOS é contribuir para o desenvolvimento social, cultural e educacional do Brasil, por meio, principalmente, de doações de livros para a formação e a ampliação do acervo de bibliotecas públicas e comunitárias. Até o final do mês de abril de 2024, estamos apoiando a campanha anual CIRCULE UM LIVRO 2024, promovida pela Ibá – Indústria Brasileira de Árvores e pela Abigraf – Associação Brasileira da Indústria Gráfica. A campanha visa promover a troca gratuita de livros, estimulando o conhecimento e a leitura, além de incentivar a economia circular entre os brasileiros e a compreensão de que o papel é um material sustentável. As ações da campanha CIRCULE UM LIVRO 2024 serão realizadas no período de 22 a 28 de abril deste ano, em comemoração ao dia 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, instituído pela UNESCO. Na última sexta-feira, dia 5, aconteceu algo incrível, inesquecível e gratificante, para quem – como eu – trabalha com livros há cinco décadas. Estava entrando no prédio da Scortecci Editora, no bairro Pinheiros, quando alguém me perguntou: “É aqui o Livros para Todos?”. “Sim!” “Eu vim fazer a doação de um livro para o projeto”, disse ele, mostrando um exemplar surrado de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do escritor Machado de Assis. Entregou-me o exemplar, feliz da vida, e justificou: “Tenho esse livro para doar. Era do meu filho, que faleceu em um acidente. O livro ajuda vocês?”. Respondi, emocionado: “Muito! Estávamos esperando por ele!”. Nos abraçamos, fortemente. Éramos então quatro: eu, ele, Machado e mais alguém, provavelmente seu filho, leitor de Brás Cubas.

João Scortecci

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EU E OS IMORTAIS LOYOLA E ZIRALDO

Uma história puxa outra! Lendo o post de um amigo nas redes sociais, falando de sua amizade e como conheceu o escritor Ignácio de Loyola Brandão, isso nos anos 1970, voltei, também, no tempo. Conheci o Loyola Brandão no restaurante Spazio Pirandello – na época, casa da boêmia paulista, dos empresários Wladimir Soares e Antônio Maschio – localizado na Rua Augusta, n. 311, no início dos anos 1980. Era no Pirandello – ponto de encontro de intelectuais – que a vida literária e cultural da cidade acontecia, no maior estilo. A casa reunia bar, restaurante, livraria, galeria e antiquário. Lançar um livro no Pirandello era o máximo, sinal de casa cheia, sucesso e venda garantida. Fui, então, ao lançamento do livro “Livre & Objeto”, da escritora cearense Joyce Cavalccante. Na época conhecia pouca gente e a vida literária era tudo, até então, uma grande novidade. No meio do agito, restaurante lotado, avistei, de longe, o escritor e cartunista Ziraldo, autor de “Flicts” (1969), livro do coração, que ganhei de presente do meu irmão José Henrique, em 1972. “É o Ziraldo!” Não pensei duas vezes. Fui até ele, na maior cara de pau. “Ziraldo, sou seu fã”. Ele me olhou, sorriu e disse-me, ao pé do ouvido: “Pena que eu não sou o Ziraldo! Sou o Ignácio de Loyola Brandão!”. Minha cara caiu. Perdi o rebolado. Quase morri. Loyola, educado, gentil, percebendo o meu desespero, disse-me: “Conheço o Ziraldo. Obrigado por me confundir com ele.”. Comprei o livro da escritora Joyce Cavalccante e fui embora. Ontem – 06 de abril de 2024 – perdemos o incrível Ziraldo, aos 91 anos de idade. Loyola Brandão gravou um áudio sobre o amigo Ziraldo, que está circulando na mídia. Lindo depoimento! Foi surpresa escutá-lo dizer: “Quando ainda tinha cabelos, vez por outra, era confundido com Ziraldo”. A história reforça o que aconteceu comigo no Spazio Pirandello, no início dos anos 1980. Loyola profetizou: “Pena que eu não sou o Ziraldo!"

João Scortecci


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XEQUE-MATE E O TERRITÓRIO DAS 64 CASAS

Xadrez. Já joguei. Gostava. Depois, por alguma razão, desisti. Perdi o fiel amigo do jogo e, depois, também o parceiro inimigo do jogo. Eu era o perdedor, sempre. Isso – talvez – explique a razão de eles terem desistido do meu perfil singular. Aceitava a derrota, passivamente, não roubava no raciocínio e poeticamente: adorava sacrificar o meu Rei, em sinal de desistência. Rei morto, rei posto! Uma vez – no Ceará dos anos 1970 – participei de um desafio de xadrez, no Clube Náutico. Um mestre enxadrista, jovem e estranho, jogava contra um bando de alunos, ao mesmo tempo. O mestre, miúdo e de óculos fundo de garrafa, perdeu apenas um jogo. Ganhou o resto, de lavada. Vi o seu Rei resfolegar e cair, mortalmente, no tabuleiro. Xeque-mate! Palmas. Pediu revanche. Aceitamos! Em segundos, o mestre amassou o Rei do aluno sortudo, que rolou, mortalmente, no piso do salão. Gritos! Depois, pegou um peão do tabuleiro e o deu, de presente, para o herói do dia. Inesquecível. Peões, bispos, torres e cavalos – na arte da guerra – “sacrificam-se”, lutando, com a sorte, pelo reino de 64 casas. Andei lendo – até então não sabia – qual a diferença entre “Guerra absoluta” – aniquilamento total do inimigo – e “Guerra total” – mobilização global. Singela diferença. Tentei, então, resgatar do passado o contato com "o fiel amigo do jogo". Não o encontrei. Escafedeu-se. Depois, tentei localizar "o parceiro inimigo do jogo". Encontrei o seu neto na Internet. Disse-me: "Vovô morreu em 2022, da Covid-19". Lamentei. Continuou, emocionado: "Ele o aguardava. Deixou comigo, para lhe entregar, o jogo e o tabuleiro de xadrez. Ele sabia que, um dia qualquer, você, do nada, daria o ar da graça!". Em sinal de desistência, agora eu sei o que significa xeque-mate. Rei morto, rei posto!

João Scortecci

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CHOCOLATE DAS TRIPAS

A vida não existe sem chocolate! Dizem - deve ser verdade - que chocolate diminui o estresse, acalma os nervos, funciona como anti-inflamatório, melhora o humor, aumenta o nosso tempo de vida, previne derrames, turbina os músculos, engorda e um monte de outras coisas. Aqui com as minhas tripas: coelho de chocolate que me encara, ferozmente? O danado - amargo, provavelmente – me olha, provocativo, do alto da estante da sala. Eu, aqui, acomodado no sofá, o observo, com o meu canivete de caça, ainda desarmado. O “monstro” lembra uma estatueta de anjo torto, um vaso de cristal sem flor, uma tentação de amor antigo. Lembra, e nada mais. A páscoa veio – escafedeu-se, velozmente – e ele, o coelho, sobreviveu, esquecido da vida. Sinto que ele - o malvado - está tenso, nervoso e inseguro. Sabe que eu sei. Ameaçado? Ainda não. Minhas tripas salivam: dedos, água na boca e paixão. A vida não existe sem poesia e sem chocolate!

João Scortecci


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TUDO ESTRANHO, MUITO ESTRANHO

O mundo anda mesmo estranho. Ontem de manhã, sol ainda acordando, lentamente, saindo por detrás de um prédio mais estranho ainda – torto e de dar medo – construído no terreno da antiga Cooperativa Agrícola de Cotia, em Pinheiros, ao lado da estação do Metrô Faria Lima, já estacionando na garagem da editora, quando passei com o carro por cima de alguma coisa estranha, na calçada. Parei. Olhei e não vi nada. Abri o portão automático e entrei com o carro. Ao entrar, observei, à esquerda, a poucos metros de distância, um rapaz, jovem, estranho, com um bebê no “canguru”. Provavelmente estava aguardando um Uber, uma perua escolar, ou um carona. Estou há 11 anos nesse endereço e confesso: foi a primeira vez que os vi, no pedaço. Desci do carro para ver o que havia atropelado. Sacos de lixo, que se rasgaram e sujaram a calçada. Lixo do vizinho – casal de idosos estranhos – que adoram o meu poste. Chamo de “meu”, porque o danado está grudado estranhamente na entrada da minha garagem. O lixo da editora – na sua totalidade composto de papel – é recolhido diariamente por uma empresa de reciclagem terceirizada, que atende, também, a livraria e a gráfica. Examinei o lixo esparramado: restos de comida, cascas de frutas, embalagens de leite, macarrão e pão velho. Que desastre! A ideia era entrar no prédio, pegar vassoura, pazinha, saco de lixo e recolher tudo. Mais tarde, depois das 8 da manhã, quando a faxineira chegasse, pediria que lavasse a calçada, operação feita, pontualmente, toda semanal. Quando estava abrindo a porta do escritório, o jovem estranho, com o bebê no “canguru”, apareceu no portão: “O Senhor atropelou o lixo!”. Gritou e foi embora. Abri o portão e o encarei. Ele me ignorou. Dar uns “tabefes”, às 6 horas da manhã, num jovem com um bebê no canguru, confesso, não é nada prático e muito menos recomendado. Mesmo que, vez por outra – estranhamente – tenha saudade do tempo de menino onde resolvíamos tudo no braço. Respondi: “Não vi.” Recolhi o lixo, com a ajuda de uma colaboradora que entrou às 6h30 da manhã e – na primeira hora do expediente – pedi para que lavassem a calçada. Hoje de manhã, estranhamente, no mesmo horário, 6 horas, reencontrei o jovem com o bebê no “canguru”. Nos encaramos, estranhamente. Já disse:  o mundo anda estranho, e eu – mais atento que tudo – ando, com todo cuidado, de olho no lixo do poste. Atropelar sacos de lixo é algo estranho. Muito estranho.

João Scortecci

 


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OVOS DE GALINHA E OS NÚMEROS DO IBGE

Sou fã do IBGE. Está tudo lá: números sobre o Brasil. Quando vejo na imprensa um número estranho – provavelmente errado – consulto o endereço do IBGE, na Internet. Fácil e prático. Nos anos 1980 – na época aluno do Mackenzie - meu professor de “Estatística” dizia sempre: O segredo é saber interpretar os números! Guardei a dica. Os números – vez por outra - mentem ou enganam, tanto faz. Lendo sobre a produção anual de ovos de galinha alguém escreveu: O consumo anual de ovos de galinha em 2022 foi aproximadamente de 4,9 milhões de dúzias. Estranhei. Fiz a conta: 4,9 milhões x 12 (dúzia) = 58,8 milhões de ovos. Para uma população que “adora” ovos, alimento completo - vitaminas, gorduras boas e minerais - e relativamente barato, a conta não bate, passa longe. Fazendo as contas: 58,8 milhões de ovos para uma população estimada em 210 milhões, daria, então, 0,28 ovos por habitante. Impossível. Busquei, então, o endereço do IBGE, na Internet. Achei. A informação, a princípio, parecia correta. E os meus 730 ovos/ano? Olhei, olhei, até que - acidentalmente - encontrei o erro, passando o mouse nos números do gráfico: 4.886.564 mil dúzias. O jornalista – acontece – não viu que eram “mil dúzias”, o que corresponde - aproximadamente - 58 bilhões de ovos/ano, 280 ovos/ano, por habitante. Ufa! Estou - os números não mentem - 2,6 vezes acima da média. Hoje - 4h30 da manhã, no café de todos os dias -, pensei em bater 3 ovos jumbo. Desisti. Optei, diminuir, no olho, no creme de leite e no queijo ralado parmesão. Adoro exagerar! Mentir, jamais. 

João Scortecci


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