Conheci o poeta Rainer Maria Rilke (1875 - 1926), nos anos 1980, lendo “Cartas a um Jovem Poeta”, de 1929, obra publicada após a sua morte e traduzida no Brasil, pelo crítico e professor húngaro, naturalizado brasileiro Paulo Rónai (1907 – 1992), com prefácio da poeta Cecília Meireles (Cecília Benevides de Carvalho Meireles, 1901 – 1964). Não foi livro comprado, recebido de presente e muito menos surrupiado. Foi emprestado - não lembro por quem - e depois de lido devolvido. O livro chegou pelo correio, a mim, jovem poeta, e voltou - envelopado e selado - também pelo correio. O livro de Rilke está na minha lista de indicações de leitura obrigatória para jovens poetas. Em 1903, morando em Paris, Rilke recebeu uma carta de um jovem chamado Franz Kappus, que aspirava a se tornar poeta e pedia conselhos ao já famoso poeta. Algo assim. Tal missiva dá início a uma troca de cartas, na qual Rilke responde aos questionamentos do rapaz e expõe suas opiniões sobre o que considerava os aspectos verdadeiros da vida: a criação artística, a necessidade de escrever, o valor nulo da crítica e a solidão do ser humano. Franz Kappus (Franz Xaver Kappus, 1883-1966) tornou-se oficial militar, jornalista, escritor e também editor de livros. Ficou conhecido como o cadete da academia militar austríaca que escreveu ao poeta Rainer Maria Rilke, em busca de conselhos sobre a arte de escrever. As dez cartas, escritas entre 1902 a 1908, foram publicadas por Kappus, em 1929. Na primeira delas, o mais célebre conselho de Rilke: “Ninguém o pode aconselhar ou ajudar – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria se lhe fosse vedado escrever?” Sim. Respondi. Morreria mil vezes, se preciso fosse. Rainer Maria Rilke faleceu em Valmont, na Suíça, no dia 29 de dezembro de 1926, aos 51 anos de idade.
João Scortecci