Fui uma criança agitada. Inquieta! Descobri que era
imperativo já adulto. Lembro que minha mãe tentou até hipnose, com um padre. O
máximo que ele conseguiu comigo foi me deixar grudado numa parede por alguns
minutos. Disse-me: “Você não consegue se mexer!” Fora isso nada mais. O “olhe
nos meus olhos” virou uma gargalhada e um chute certeiro na sua canela. Teria
dito: esse menino é um capeta, algo assim. As tentativas de acalmar o meu coração selvagem e rebelde foram
muitas. Lembro de algumas. Alguém da família aconselhou a minha mãe Nilce: O
menino tem muita energia! Precisa gastar! Recomendo aulas de tênis. Insistiu.
Mamãe, então, matriculou-me na escolinha de tênis do professor Gadelha, do
Ideal Clube. Duas vezes por semana: segundas e quartas. Na mesma época
descobriram, também, que eu era bruto, violento, agressivo, pavio curto e perigoso. Mamãe Nilce contratou, então, junto, uma professora de piano, nas terças e quintas. Resumo da ópera: tênis segundas
e quartas e piano terças e quintas. "Nilce, isso vai resolver?" Papai Luiz perguntando. A professora de piano - pacientemente – dizia: solta os dedos,
amolece os pulsos, relaxa. E o professor de tênis cobrava: aperta os dedos, segura
a raquete com força, endurece o pulso, agride a bola e bate! Não deu certo. Tentei alguns meses, depois desisti. Primeiro do piano e depois do tênis. Fui, ainda, lobinho e escoteiro, goleiro,
lutador de judô, piloto de carrinho de rolimã, lanceador de arraia com cerol e caçador
de calangos, tijubinas e ratos no riacho do Pajeu. Até os 16 anos, quando vim
morar em São Paulo, continuava o mesmo: imperativo, agitado e violento. Foi no
serviço militar, no ano de 1976, que melhorei, aprendi técnicas de autocontrole
e fiquei amigo de um soldado, mais agitado que eu. Perto dele eu relaxava, sentia-me calmo, nirvânico. Foi ele que me ensinou a única técnica
que funciona para imperativos como eu. Ele disse: “É uma doença e não tem cura!”. E qual o
segredo, quis saber. Ele me olhou e disse: “Ocupar-se ou viver 24 horas por dia em perigo!”.
João Scortecci