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LUPERCA E A LOBA DA NOITE DE LUA CHEIA

Lua cheia. Nuvens escuras e algumas estrelas no céu. Eu e meus lobos: famintos. Os lobos são mamíferos canídeos. Família grande: cães, lobos, chacais, coiotes e raposas. São sobreviventes da Era do Gelo, originário do Pleistoceno Superior, cerca de 300 mil anos atrás. Existem 36 espécies de lobos no planeta. No cerrado brasileiro vive selvagem o lobo-guará. Já estive frente a frente com um. Olhamo-nos: olho no olho, no silêncio da noite. Ameaçou fugir, mas não o fez. Impulso inato, instintivo. O lobo-guará vive em tocas no solo. São solitários e tímidos. Alimentam-se de roedores, aves, insetos e répteis. A relação de amor e ódio com os humanos é mística, supersticiosa e mitológica. São deuses na mitologia nórdica e na história estão associados ao surgimento de Roma, alimentando os gêmeos Remo e Rômulo. Diz à lenda que a loba Luperca, aproximou-se das águas do rio Tibre para beber água e os encontrou à deriva, num cesto. Não tivemos medo, mesmo aguçados. Caminhamos juntos, lado a lado, até o canteiro das galinhas tristes. Alvoroço. Barulho de asas. Disse-lhe: apenas uma! Foi o que fizemos. Cada bicho faminto - Eu e Ela - abocanhou a sua presa. Felizes, seguimos em direções opostas: eu de volta aos meus sonhos de lobo e ela, veloz, na direção das árvores do bosque. Dentro de nós existem dois lobos carnívoros. Um bom e outro mau. Naquela noite de lua cheia nos encontramos famintos, no coração imaculado de Reia Sílvia. Abençoados? Talvez. Abraçamo-nos, saciados. Instintivos! Partilhamos a fome da terra, as emoções selvagens da alma, o equilíbrio e as razões da vida. E o tempo passou. Nunca mais reencontrei Luperca, a loba das águas do rio Tibre. Nem também Reia Sílvia, a deusa do monte Palatino. Outro dia, ferido e selvagem revisitei o canteiro das galinhas tristes. Elas continuam lá: alvoroçadas e solitárias. Até quando? Não sei. 

João Scortecci