O filme franco-italiano de ficção científica “Barbarella” estreou nos cinemas do mundo no ano de 1968. O filme, uma comédia erótica, dirigido por Roger Vadim (1928 – 2000), baseado nas histórias em quadrinhos do escritor, roteirista e ilustrador francês Jean-Claude Forest (1930 – 1998), estrelado pela atriz, escritora e ativista Jane Fonda (Jane Seymour Fonda, 1937 - ), marcou época. Sucesso de público e bilheteria. Naquele ano, a cidade de Fortaleza ganhou bares, boates e lojas, com o nome de “Barbarella”, em homenagem ao filme e a Jane Fonda, musa sexual dos anos 1960. O filme – abertura disponível no Youtube – começa assim: Jane Fonda despe-se da roupa de astronauta, na gravidade zero e nua, dá piruetas pela cápsula espacial. É o que ficou na lembrança: a nudez de Jane Fonda. Meu pai Luiz era apaixonado por ela. Deve ter assistido ao filme uma dezena de vezes. Imagino. Quando comentava as “piruetas” de Barbarella, na gravidade zero, seus olhos brilhavam. Na época não pude assistir: tinha, apenas, 12 anos de idade. Mas a imagem ficou e reapareceu num Jeep. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América e Aliados estabeleceram bases navais e aéreas no Nordeste brasileiro, incluindo a capital do estado do Ceará. Com o fim da guerra, as bases foram desativadas e incorporadas aos aeroportos e instalações locais. A presença militar dos EUA no Ceará foi desativada em 30 de junho de 1945. Parte do saldo de guerra – o material excedente deixado pelos militares – foi vendido ao Exército Brasileiro, outra parte, para civis e colecionadores e outro tanto foi banhado no óleo cru e enterrado no litoral do Ceará. Em 1947, jangadeiros e curiosos começaram a desenterrar o material descartado. Foi encontrado de tudo: inclusive dezenas de Jeeps, caçambas, geladeiras, fogões e roupas. No caso dos Jeeps, o óleo cru conservou os veículos contra a corrosão e a maresia. Algumas peças foram desenterradas em ótimo estado de conservação. Em 1970, papai Luiz e meu irmão José compraram o Jeep que batizamos de “Barbarella”. O veículo militar norte-americano – todo original – foi reformado: motor e pintura. Virou sucesso nas ruas e praias de Fortaleza. Aprendi a dirigir no Barbarella, câmbio de três marchas, tanque de gasolina embaixo do banco do motorista e bancos duros de doer. O Jeep Barbarella ficou na família até o final dos anos 1970, quando foi vendido. Nossos planos: morar na cidade de São Paulo. Foi o que aconteceu. Luiz, irmão mais velho, veio em 1969; José Henrique, em 1970; eu em 1972; Ana Cândida, em 1979; e papai e mamãe, em 1984, depois de morarem por um tempo em Pouso Alegre/MG. Perder Barbarella foi doloroso. Aconteceu. Imagens eternas, inesquecíveis: Barbarella, na gravidade zero, navegando nas praias do mar do Mucuripe.
João Scortecci