Pesquisar

AZEITONAS PRETAS, RÉSTIAS DE CEBOLA E VIK VAPORUB

Gosto de azeitonas. Lembro da primeira que coloquei na boca: tira-gosto com uma lapada generosa de uísque Johnnie Walker, o preferido do meu pai Luiz. Tinha 11 anos de idade, talvez 12. Lá em casa – isso no Ceará dos anos 1960 – quase nada era proibido. Fui uma criança perigosa: tive armas de fogo, canivete, pau de Jucá, soco inglês, baú com fogos de artifício, charutos e uísques. Quando fazia danação: entrava na cinta. Castigo comigo não adiantava muito: eu fugia! Mamãe Nilce era quem operava a sova merecida: batia com vontade, nas pernas. Apanhei muito! É dessa época que aprendi a subir no alto do pé da goiabeira do quintal e lá ficar escondido, no silêncio do vento. Mamãe Nilce tinha coração mole: perdoava sempre. Eu sabia esperar, pacientemente. Ela, então, sorria com amor de mãe e me perdoava pela danação. A azeitona é o fruto amargo e oleaginoso da oliveira, uma árvore nativa da região mediterrânea e do Oriente Médio. Desde criança sabia que as azeitonas eram da cor verde e vinham de dentro de um vidro de 500 g, com tampa de rosca. Já morando em São Paulo, no ano de 1972, foi quando descobri que também existiam as azeitonas pretas e que no Mercado Municipal podíamos comprá-las a granel, por quilo. Desconhecia – até a vida madura – seus benefícios para a saúde: proteção cardiovascular e a ação antioxidante. Dizem: benefício é coisa de velho! Algo assim. As azeitonas eram, até então, apenas um delicioso tira-gosto e nada mais. Com cachaça, chega-se ligeirinho ao céu! Com as azeitonas pretas, surgiram também as pizzas, os molhos, os patês e os benefícios. Um detalhe insignificante – não leio rótulos por uma simples razão: não enxergo as letrinhas miúdas. Hoje, na boca dos 70 anos de idade, limito-me a fazer a força necessária para desrosquear a tampa do vidro de azeitonas. Outro dia, um amigo de sangue português me disse: “Azeitona preta é aquela que atingiu o seu processo de maturação completa. A principal diferença entre as azeitonas verdes e as pretas é a época da colheita. As verdes são colhidas imaturas; as pretas são colhidas já maduras, o que lhes confere um sabor mais suave e adocicado”. “Mentira! E as famosas azeitonas portuguesas?”. Ele riu. Abri o Google e fui procurar saber sobre o assunto. Ele tinha razão! A vida continua – vez por outra – me enganando. Na infância, eu achava que as cebolas nasciam em réstias e Vick VapoRub curava todos os pecados do mundo. Meu pai Luiz dizia sempre: a vida é desleal e desumana! Santo benefício: rogai por nós!

João Scortecci