Na virada do século – quando o assunto era o Bug do Milênio e as profecias sobre o fim do mundo –, meu filho, Alexandre, na época com 14 anos de idade, curtia dinossauros, Cavaleiros do Zodíaco e os programas da Discovery Channel, canal por assinatura da Warner Bros que exibe documentários e programas sobre ciência, tecnologia, natureza, aventura e história. “Pai, o mundo vai acabar?” “Vai. Não sei quando!”, respondi. Desde os anos 1960, vez por outra – sempre que alguma tragédia acontece – o assunto Fim do Mundo reaparece na mídia e na boca do povo. Perguntei-lhe, então: “Filho, o que está lhe incomodando?”. Silêncio. Alguns minutos depois, ele veio e perguntou-me: “Onde vai começar o fim do mundo?”. Onde? Boa pergunta, pensei. Lembrei-me, então, de um sonho que tive quando criança, no Ceará dos anos 1960. Respondi: “Vai começar na China!”. “Na China?”, perguntou-me, surpreso. “Sim, na China.” Contei-lhe, então, o meu sonho apocalíptico de criança. “Estranho!”, comentou. “Estranho, por quê?”. Quis saber. Ele, então, justificou: “Deveria começar no Oriente Médio, numa guerra entre judeus e árabes, algo assim”. Entendo. Fez, então, outra pergunta: “O fim do mundo vai ser transmitido ao vivo pela CNN?”. “Quero assistir tudo, ao vivo, na TV!”, declarou, eufórico. “Eu também!”. Disse. Ele sorriu. “Não quero perder o fim do mundo por nada!”. Risos. Na época eu tinha 44 anos de idade e na cabeça um único desejo: vê-lo pronto para a vida! E pensar que, depois do fim, nada mais existirá!” Profetizei. Silêncio. "No sexto dia da criação, Deus criou os animais terrestres e depois - já de saco cheio - criou os seres humanos (Gênesis 1:24-31). “Poderia ter descansado no sexto dia e no sétimo, caído na gandaia, merecidamente. Tudo teria sido mais simples!” Resfoleguei. Alexandre, desinteressado do meu comentário estúpido, mudou de canal na TV e foi assistir Cavaleiros do Zodíaco. Simples assim.
João Scortecci