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AQUI NÃO HÁ NINGUÉM!

Maria do Meio, a louca, irmã caçula de Pedro, o Rei, adentrou no salão nobre do palácio e gritou, aos céus: “Aqui não há ninguém!”. Contou - com os olhos - as cadeiras do salão: 50 no total, e um longo corredor no meio, dividindo o espaço. Pedro, o Rei, acompanhado de sua guarda real, entrou no salão e percorreu todo o corredor, até o seu trono, que o aguardava. Em seguida, entraram um a um, todos os nobres da corte e se sentaram nos seus lugares de sempre. Os amigos de Pedro, o Rei, do lado direito do salão e seus opositores, do lado esquerdo. Maria do Meio, irmã caçula de Pedro, o Rei, aguardava de pé, inerte, estacionada no meio do corredor. Depois que todas as cadeiras foram ocupadas, Maria, gritou, mais uma vez: “Aqui não há ninguém!”. Todos riram. O Rei, então, preocupado com o que a corte pensaria de sua irmã caçula, bateu seu cajado no chão e gritou: “Aqui não há ninguém”. E todos do salão, inclusive os soldados da guarda real, responderam, saudando Pedro, o Rei: “Aqui não há ninguém!”. Maria do Meio, aparentemente satisfeita, resfolegou: “Depois a louca aqui sou eu!” Fechei o caderno azul das anotações do tempo, que já foi verde e no passado amarelo e o guardei na gaveta das loucuras da vida. Admiro os loucos de pedra: é com eles que conheço a natureza humana. Maria - a louca - então, gritou no pé do meu ouvido: Aqui não há ninguém! E eu, então, acordei de mim mesmo.

João Scortecci