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GARIBALDI, ANITA, GEROLAMO E O RISORGIMENTO

Gosto de olhar pinturas de cenas militares, batalhas, de guerras antigas, em especial do “Risorgimento”, movimento histórico de unificação da Itália. Os museus do mundo inteiro estão cheios delas. Podem reparar: sempre tem alguém olhando, vasculhando, procurando um rosto familiar. É o que faço, sempre. Procuro por mim mesmo. Algo me diz que vivi por lá. Fui um amanuense, um mensageiro, algo sim. Conheci o militar e pintor Gerolamo Induno (1825 – 1890) em Milão, na Accademia di Belle Arti di Brera, fundada em 1776, por Maria Theresia (Maria Theresia Walburga Amalia Christina, 1717 – 1780), governante da monarquia dos Habsburgos, Áustria. Gerolamo – naquela vida – era um sujeito tímido, silencioso, reservado e único. Enquanto pintava cenas militares, de guerras e mortes, eu recitava poesias, do alto de uma pedra no campo, inspirado pelas cores de seus quadros. Depois do sol, quase noite, bebíamos vinho e – então – embriagados, navegávamos pelos lugares do tempo. Foi no ano de 1859 que Gerolamo Induno resolveu se alistar na brigada de voluntários “Caçadores dos Alpes”, sob as ordens do general, guerrilheiro e revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi (1807 – 1882), herói da guerra de independência Italiana. Não tive dúvidas: fui junto! Gerolamo logo passou a ser reconhecido por Garibaldi como o pintor oficial do “Risorgimento”, especialmente em questões de caráter oficial. É de Gerolamo um dos dois únicos retratos conhecidos da revolucionária brasileira Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus Ribeiro, 1821 – 1849), esposa de Garibaldi. Data de 1849 e foi identificado por oficiais de Garibaldi – que conviveram com Anita – como a representação mais fiel de sua aparência. O militar e pintor Gerolamo Induno – naquela vida – morreu em Milão, após uma longa enfermidade, no ano de 1890, aos 65 anos de idade. Despedimo-nos em silêncio. Até breve, disse-lhe. Ele sorriu, apenas. Decidi, então: nada mais o que fazer por lá; a Itália unificada desde 1861, Giuseppe morto em 1882, e Anita Garibaldi, a brasileira revolucionária, a "Heroína dos Dois Mundos", também morta, desde 1849. Deitei na relva do campo e parti, veloz, morto no relógio do tempo.

João Scortecci