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IMPRIMIR NO CORPO DO ESPÍRITO / JOÃO SCORTECCI

Veio a pergunta: Você é capaz de imprimir no corpo do espírito? Essa é nova e descobri hoje. É possível? Quis saber. Vida de gráfico não é fácil. Lembrei-me, então, de uma questão dos anos 1972: Qual a cor do amor? E nós - jovens de tudo - respondíamos pelo Deus: amor não tem cor! Levávamos o cálice, as hóstias e o silêncio da alma, até o altar da igreja de Santa Cecília. E pronto. “O amor não tem cor!” Era a resposta e tudo ficava assim e por isso mesmo. Éramos felizes! E a loucura da tal Flor de Plutônio? Sei não. Desconheço. Existe isso? Talvez. Pergunta da pergunta: Você é capaz de imprimir no corpo do espírito? Silêncio. Respondi, então: Eu sei transferir - vida e morte - para o papel, sei untar tintas, esfregar grafite nos olhos, riscar beijos na pedra sabão e rabiscar versos de amor nas areias do mar. E imprimir no corpo do espírito: você sabe? Sei não. No passado tudo era mais simples. Bastava acreditar - ter um pingo de fé - e pronto. Resposta satisfatória: O amor não tem cor! E agora? Complicou, né? “Imprimir” é verbo transitivo da terceira conjugação e o “ir” é imperativo. Sinto saudade do tempo do clichê, do carimbo, da tatuagem do chiclete, do soldadinho de chumbo, das figurinhas carimbadas de futebol, da coleção de tampinhas, das balas de menta, do jogo com bolinhas de gude, das arraias no céu do Ceará e mais do que tudo: das linhas de cerol. Éramos felizes! Cara chato: E imprimir no corpo do espírito? Prometi: vou procurar saber e depois retorno. Menti. Deve ser "coisa" de impressão em 3D, algo assim. Gráfico sofre. Desligou o celular. Salvei o número do infeliz como "Chato 32". Lista que segue, flor de plutônio, fila que anda, amor não tem cor, somente passado.

João Scortecci