A palavra “ordem” significa disposição ordenada das coisas. Gosto dela, mesmo diante do caos, do incerto, do imprevisível, do arbitrário que assolam o mundo. "Para sair do buraco, precisamos parar de cavar", diz o ditado popular, sugerindo que, para resolver um problema ou muitos, é preciso identificar e interromper as ações que estão agravando a situação. Para este editorial, recorri ao pensamento amplo e liberto do Iluminismo, movimento cultural e filosófico europeu dos séculos XVII e XVIII, que valorizava a razão, a ciência e as liberdades individuais, como meios de superar o obscurantismo e as injustiças sociais. Não satisfeito, reli trechos da obra Depois do Futuro, do filósofo e ativista italiano Franco Berardi (Ubu Editora, 2019), em que o autor repassa as vanguardas do século XX para mostrar como o futuro, até os anos 1970, era visto com esperança e confiança. Tive o privilégio de viver minha adolescência no esplendor dos anos 1970. Aprendi – isso ainda criança de tudo – que, desenhando e pintando um arco-íris numa folha de papel, estaria construindo uma armadura, selando contra o caos as indisposições da vida, o desalinho do mal, as doenças, o obscurantismo e as injustiças sociais. Estaria alado e iluminado – pássaro na curva do tempo –, voando liberto na ordem das coisas, no magma do arco-íris, até o baú das riquezas, da generosidade e dos sonhos da alma. Viajando no tempo, tornei-me adulto e, mais recentemente, um idoso. Folheando páginas de um livro de colorir – que ganhei de presente para a minha neta –, encontrei no miolo o desenho de um arco-íris, ainda por colorir, pedindo para ser iluminado. É o que farei. No editorial da Revista Abigraf – importante espaço da indústria gráfica – pedem-me, sempre, para escrever algo positivo, desafiador, iluminado de sonhos e esperanças. É o que faço. E pretendo fazê-lo, enquanto acreditar na singularidade mística do arco-íris, no vindouro, no depois do futuro. Desconfio dos homens, mas acredito na humanidade! Entregarei de presente para a minha neta o livro com a impressão do arco-íris já iluminado, com as cores da esperança, do pensamento livre e da justiça social. É o que farei.
João Scortecci