O Cuco é um pássaro folgado e esperto! É o que dizia meu avô. Um parasita! Deposita os seus ovos nos ninhos de outras aves e depois voa e desaparece. Durante muitos anos – ainda criança de tudo – jurava que os cucos fugiam da mata e iam morar dentro dos relógios de parede. Nas minhas histórias antigas – histórias do passado – sempre encontro relógios de parede. Paro no tempo e fico por lá, vendo-os abrir a porta do ninho e cantar: “Cuco, cuco, cuco!”. Já deparei com relógios quebrados, sem corda, com pêndulos roubados, endurecidos, trincados e alguns poucos – raridades – perfeitos, em ótimo estado, funcionando a todo vapor, badalando horas, que nos ferem e nos matam. Já resgatei um cuco de um relógio velho, quebrado. Guardei-o numa gaveta de meias até o dia em que ele, misteriosamente, sumiu. Deve ter voado e ido fazer ninho noutro pé de meia. Dizem que a invenção do relógio cuco se deu na região da chamada Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha e foram exportados para o resto do mundo a partir de meados da década de 1850. O que eu não sabia – morrendo e aprendendo – é que os filhos do Cuco são verdadeiros “bandidinhos”. Logo ao saírem dos ovos, empurram para fora do ninho os recém-nascidos autênticos da ninhada, tomando-lhes o reino. Em latim,”Vulnerant omnes, ultima necat!” significa, em tradução livre: “Toda hora fere, a derradeira mata!”. O meu coração – ele vive nas minhas histórias antigas – badala e fere. Pia, canta e grita: aguarda, inevitavelmente, pela badalada derradeira do relógio de parede.
João Scortecci