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DAS ESCOLHAS DE UM LIVRO / JOÃO SCORTECCI

O livro salva. Cura neuroses e alimenta manias. É o que dizem. Acredito nisso. Li na infância as obras de Monteiro Lobato, Júlio Verne e José de Alencar e, na adolescência, os livros “Encontro marcado”, de Fernando Sabino, “O diário de Dany”, de Michel Quoist e “O profeta”, do libanês Khalil Gibran. Pouco mais de 20 títulos. Isso antes de deixar o Ceará e vir morar em na cidade de São Paulo, no ano de 1972. Tinha 16 anos de idade. Tornei-me sócio do Círculo do Livro e cliente da Livraria Brasiliense da Rua Barão de Itapetininga e do Largo do Arouche. Não parei mais. Tornei-me, então, um leitor. Na época, autores estrangeiros – na maioria de clássicos – eram raridades nas livrarias, em comparação com os milhares de títulos de hoje. Gostava de um autor e pronto: lia tudo dele. Aprendi, depois – isso levou algum tempo – a caçar novidades nas livrarias do centro da cidade. Tinha tempo. Foi uma época interessante. Fazia assim: olhava a capa, depois o assunto da obra, a sinopse e, por fim, o autor e sua biografia. Na edição de 2025 do projeto Circule um Livro, realizada na Avenida Paulista, no vão do Prédio da FIESP, na cidade de São Paulo, pude observar o modo operante de três leitores, que colocaram a barriga num balcão de 5 metros e lá ficaram por mais de 30 minutos. O primeiro, um homem com pouco mais de 30 anos de idade, escolheu livros assim, pela ordem: capa, título, assunto e a sinopse no verso de capa. Não abriu os livros, não folheou, não leu as orelhas, não quis saber o nome da editora e muito menos o da gráfica em que foi impresso. Consultou exemplares de seis títulos. Levou um deles. Anotei. Em seguida apareceu outro homem, pouco mais de 50 anos de idade. Selecionou três títulos, dois deles no formato de bolso. Conferiu capa e título. Depois leu as orelhas e o cólofon. Interessante: os três títulos não tinham ilustrações de capa. Levou um livro de bolso. Por fim, uma moça, jovem, selecionou cinco livros diferentes. Todos com capas coloridas e títulos de assuntos diversos. Não abriu nenhum deles. Colocou-os um ao lado do outro e fotografou com o celular. Depois foi embora de mãos vazias. Conclusão sobre as escolhas de um livro: nenhuma. O livro cura neuroses, alimenta manias e se salva também. Tudo junto.  

João Scortecci