O pássaro preto da noite - que não era morcego - ficou preso na rede dos sonhos. Estaria morto? Talvez. Cutuquei com a ponta do dedo e nada. Esperei, então, adormecido no melhor da hora. O dia amanheceu. Do nada – depois de uma leve brisa de vento – o bicho se mexeu inteiro, pendurado pelos pés, preso na rede de proteção do quarto. Acordei, de vez. Quem é você? O pássaro preto sussurrou: Sargento-chopi, mais conhecido como graúna ou ainda pássaro preto. Você tem nome, quis saber, curioso: Tenho: sou o Chopim do Abacateiro, sem vizinho. Olhei: imenso, cheio de abacates, na altura do 4º andar, onde moro. Disse-me: errei o caminho e caí na rede! Protestou. Solte-me! Ordenou. Aflição de bichos que se respeitam e se olham na dor. Inveja: eles voam e Eu não! Amanheci desconfiado com sol nos olhos do corpo: passarinho de mim. Devo libertá-lo? Eu e as brevidades de querer voar junto: livre. Olhei e me vi abatido no desespero do espelho da alma. Eles voam e Eu não! Aflição de bichos que se respeitam e se olham no tempo. Você volta depois? Quis saber. Talvez, respondeu-me. Nos soltamos, então. E voou. Chopim voou leve na direção do abacateiro do vizinho e eu fiquei morto, preso no espelho da rede dos sonhos. Até quando? Sempre.