Minha mãe Nilce era médium. Lutou, durante alguns anos, contra o dom, depois, já morando em São Paulo, assumiu de vez. Deixou num diário, num livro de orações e em três livros de poesias, suas experiências mediúnicas. Nos anos 1960, de volta ao Ceará, depois de quase três anos morando em Dois Córregos, interior de São Paulo, passou a frequentar, quase que diariamente, a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, região central de Fortaleza, na Avenida Duque de Caxias, 235. Morávamos na Av. D. Manoel, 1086, quase esquina com a Av. Duque de Caxias, três quarteirões de distância da Igreja. Um dia, Mamãe Nilce - visivelmente aborrecida e triste - juntou seus três filhos homens e disse-nos: “Não vou mais rezar na igreja!”. De hoje em diante cada um de vocês segue espiritualmente o seu caminho. E assim foi. Até hoje não sei o que aconteceu. Deve ter sido algo grave. Desconfio que Nilce - jovem e bonita - tenha sido assediada pelo pároco ou alguém da igreja. A vida é “Desleal e desumana”, palavras do meu pai Luiz Gonzaga. Justificava-se, com propriedade: “Não adianta andar com um canivete no bolso. O inimigo sempre carrega consigo um imenso facão!”. Risos. Lendo o livro “1942” do João Barone, rebelde baterista da banda “Os Paralamas do Sucesso” soube da história do seu pai “João Silva”, herói de guerra, pracinha que lutou na Itália, durante a II Guerra Mundial. Meu pai Luiz Gonzaga foi soldado do Regimento Sampaio, do 1º Batalhão de Infantaria Mecanizada. Em 1945, embarcou na cidade do Rio de Janeiro, num navio americano, com destino à Itália, mas o navio - felizmente - acabou não zarpando. A guerra havia acabado! Minha avó paterna Sarah do Carmo Paula - da promessa feita pela vida do seu filho mais velho – foi, então, resgatar junto ao pároco da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, o anel de brilhante, depositado, como garantia, pela promessa de milagre. O padre desconversou e não o devolveu. Disse: "Sarah, o milagre aconteceu!" Dos mais de 25 mil soldados brasileiros que lutaram na II Guerra Mundial, 377 eram cearenses. O padre milagreiro, alguns dias depois, sumir da paróquia. Escafedeu-se! “Vão-se os anéis, ficam os dedos”.
João Scortecci