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CINE MARABÁ, MARIA SCHNEIDER E TALHARIM À CAVALO

O cine Marabá fica na República, na Av. Ipiranga, 757, quase esquina da Av. São João. Foi inaugurado em maio de 1944 e lá está, até hoje. Gigante e imponente, com capacidade para 1.022 pessoas. Nos anos 1972 até 1974, frequentava a Praça da República e Região. Largo do Arouche, 7 de Abril e 24 de Maio, eram as ruas preferidas. Passava horas nas livrarias do centro, em especial na Livraria Brasiliense, da Barão de Itapetininga. Aos domingos o programa era único: Almoçar talharim à cavalo no Giovanni, da Rua Timbiras, 607 e depois, comprar selos, na Feira Hippie da República. Foi na Av. São João com a Av. Ipiranga, que, apaixonei-me, pela atriz francesa Maria Schneider (1952 – 2011). Era uma sexta-feira e no Cine Marabá estava passando o filme "Último Tango em Paris". Conhecia o astro Marlon Brando (1924 – 2004), dos filmes: O Selvagem, Viva Zapata e Outros. Era o galã da época! Mas, a Maria Schneider, não. A cena da manteiga – confesso – era o melhor dos pecados. Quero ver! Eu tinha na época 16 anos de idade e o filme era proibido para menores de 18 anos. Tinha uma identidade falsa - comum entre os adolescentes da época - e uma certeza: não iriam me barrar na entrada com os meus 1,89m de altura. O plano era simples: fazer a catraca girar, com tranquilidade. Foi o que fiz. Alguns metros depois, já no salão principal do Marabá, alguém abordou-me: "Senhor!" Gelei. Juizado de Menores? A voz, então, disse-me: “Senhor, não pode entrar sem terno e gravata!" Terno? Não sabia. Nem terno eu tinha. Vendo o meu "atrapalhamento" o homem apontou para um cabideiro, apinhado de casacos e gravatas, no canto, a esquerda do salão. Disse-me: “Escolhe lá terno e gravata e devolve, depois, na saída!”. Foi o que fiz. Provei. Nenhum casaco do meu tamanho. Todos pequenos, sujos e fedorentos. As gravatas penduradas, já com nó dado. Sorte a minha. Até então, não sabia dar nó de gravata. Papai Luiz - antes de deixar o Ceará -, bem que tentou me ensinar, sem sucesso. Entrei e sentei, no meio, na primeira fileira. Não podia perder Maria Schneider. Ela me aguardava. Assisti duas seções seguidas. Assistir filmes proibidos no Cine Marabá, passou, desde então, programa das sextas-feiras, isso, depois, do talharim na manteiga, à cavalo, no Restaurante Giovanni. Foi também no Cine Marabá, que, enamorei, a belíssima Emmanuelle (Sylvia Kristel, 1952 - 2012), ano da graça de 1974, ano que completei 18 anos de idade, tirei carteira de motorista e joguei no tempo, todas as minhas identidades falsas.   

João Scortecci