Um livro no banco da praça. Vi de longe. Molhado, pela chuva de hoje. Li o título e o nome do autor. Desconhecido, ainda. Livro de poesias, capa com desenho de um pássaro preto, ferido, perdido no meio de uma estrada. Cutuquei-o com os olhos e depois, o abri, com a ponta de um galho de árvore. Medo de feri-lo, de vez. Página 31, Poema: Asas da dor: “Dói o abandono qualquer. Dói. No silêncio da praça, não há vento e nem asas no tempo. Nada volta! O voo das águas da manhã afogou-me de lama e morte. E Eu, então, parti.” Guardei-o num saco plástico e o trouxe comigo. Coloquei-o para secar na janela do quarto. Anotei num pedaço de papel o nome do poeta e o seu endereço eletrônico, impresso no cólofon da obra. Reeditá-lo, talvez. Dia de sorte: chuva da manhã, banco de praça, livro molhado e um poema. E Eu, então, parti.
João Scortecci
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