Gosto de “historinhas”. Quem não gosta? Algumas são deliciosas e desde criança fazem parte do meu coração de menino. Vovó Sarah era quem contava as melhores. Inesquecíveis! Foi ela que me contou a historinha do velho e sábio índio e os seus conflitos internos da alma: “Dentro de mim moram dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil, eles estão sempre procurando briga um com o outro. Foi quando lhe perguntaram: “Qual dos dois ganharia a briga?” O velho índio parou, refletiu e respondeu: “Aquele que eu alimentar primeiro!” Hoje acordei cedo e logo tratei de alimentar o meu cachorro bom e dócil. Comeu e dormiu, em paz, com a cabeça voltada para o bem. O cachorro cruel e mau, reclamou. Dei-lhe, então, ração e água. E nada mais. Vovó Sarah dizia, sempre: o único animal cruel por natureza é o homem. Eles e as formigas! Formigas? Sim. Elas carregam e espalham doenças, vírus, bactérias e fungos! Filho, cuidado com as formigas! Fuja delas. Elas levam e trazem gripe, tuberculose, verminoses e até lepra, além de intoxicações alimentares, vômito e diarreia. Já idosa e sofrendo de demência, isso no final dos anos 1970, certo dia, depois de alimentar os cachorros, tirou os sapatos do pé, ajoelhou-se e começou a cutucar o chão da sala e os cantos da casa. Vovó, o que você está fazendo? Perguntei-lhe. Ela, então, olhou-me e respondeu: Estou matando formigas! “Qual dos dois ganharia a briga?” Quis saber. Ela sorriu e resfolegou: a crueldade.
João Scortecci