Conheci a escritora, poeta e ativista do movimento feminista estadunidense Gertrude Stein (1874 - 1946), depois de assistir ao belíssimo filme "Meia-Noite em Paris" (“Midnight in Paris”), de 2011, estrelado por Owen Wilson, Marion Cotillard e Rachel McAdams, escrito e dirigido pelo cineasta, ator e comediante estadunidense Woody Allen. Gertrude Stein nasceu na cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Caçula de cinco filhos de um casal de judeus alemães, de classe média alta, Daniel e Amélia Stein. Aos 3 anos de idade sua família mudou-se para Viena, na Áustria e depois para Paris, França. Em 1879 a família retornou aos EUA e se estabeleceu em Baltimore e depois em Oakland, na Califórnia. Gertrude estudou psicologia no Radcliffe College, faculdade de artes liberais para mulheres e medicina na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland, não chegando a concluir o curso, optando mudar-se para Paris, onde seu irmão mais velho, Leo, morava e colecionava pinturas de artistas famosos, como Paul Cézanne, Jean Renoir, Édouard Manet, Paul Gauguin e obras de pintores, até então desconhecidos, como Pablo Picasso, Georges Braque, Juan Gris e Henri Matisse. Gertrude Stein escreveu dezenas de livros e poemas. Seu romance mais famoso “A autobiografia de Alice B. Toklas” é o que menos representa sua prosa experimental. Um artigo publicado no New York Times em 1968 descreveu o apartamento dela na Rue de Fleurus, 27, na margem esquerda do Sena, como o "primeiro museu de arte moderna". Stein costumava organizar salões noturnos aos sábados, que atraíam não apenas artistas europeus de vanguarda, cujas obras estavam penduradas do chão ao teto de seu apartamento, mas também escritores americanos. Stein os chamava de "geração perdida". Entre os convidados literários estavam Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Ezra Pound. "Todos traziam acompanhantes, vinham a qualquer hora e isso começou a ser um incômodo. Assim começavam as noites de sábado", conta Gertrude Stein em "A autobiografia de Alice B. Toklas", sobre sua parceira de vida. O filme "Meia-Noite em Paris" conta a história de um escritor e roteirista americano que, enquanto caminha sozinho pela cidade, no badalar da meia-noite, volta no tempo, na Paris do ano de 1920, nos encontros da Rue de Fleurus, 27, de Gertrude Stein. Aqui confesso: inveja do escritor Gil Pender (papel vivido pelo ator Owen Wilson), quando - magicamente - encontra Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Salvador Dalí e Outros. Meu pai Luiz Gonzaga, contava que numa viagens à Espanha, assistindo a uma tourada em Madri, sentou-se do lado de um sujeito estranho, com um imenso bigode colado com as pontas para o céu. Pensou consigo mesmo: "Eu conheço esse sujeito!". Carregava, na época, uma filmadora de 8 mm. Dizia: "Até pensei em filmar o homem do bigode esquisito, mas acabei ficando com o touro e o público da arena que gritava olé, olé". "No hotel, já deitado, pulei da cama e gritei: Salvador Dalí". Nunca se perdoou por isso. Brincávamos, sempre: "Papai passa o filme do touro" e ele respondia, emputecido: "Não!".
João Scortecci