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“LEOTA”, PEDRA BRANCA E O ADAGIÁRIO BRASILEIRO / JOÃO SCORTECCI


O escritor, promotor de justiça, jornalista e historiador cearense Leonardo Mota (Leonardo Ferreira da Mota Filho, 1891 - 1948), nasceu em Pedra Branca, microrregião do Sertão de Senador Pompeu, no coração do Ceará. No local - conhecido por Tabuleiro da Peruca - havia uma pedra de tonalidade clara, que, a partir do século XIX - passou a ser um marco e ponto de encontro de vaqueiros e viajantes, da região. Em torno do marco - representado pela pedra alva - foi fundado um povoado, depois vila e em 3 de maio de 1935, por meio do Decreto de Nº 1540, município de Pedra Branca. “Leota” era assim que gostava de ser chamado, dizia, sempre: "Cresci nas banhas e encurtei no nome.". O seu interesse pela sabedoria popular e sertaneja, teve início quando foi morar na cidade de Ipu, no Ceará, distante, aproximadamente, 167 km de Pedra Branca, onde, a convite de seu irmão, o Cônego Aureliano Mota, dirigiu um Instituto Educacional da cidade. Leonardo Mota é membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará. Proferia palestras para plateias de estudiosos e interessados folcloristas, sua paixão. Foi um grande contador de anedotas, animador de rodas de amigos e intelectuais da Praça do Ferreira, localizada no coração de Fortaleza. Foi na Praça do Ferreira - em 30 de maio de 1892 - que nasceu a “Padaria Espiritual”, agremiação cultural que reuniu escritores, pintores e músicos. Leonardo Mota estava lá. É dele a obra "Padaria Espiritual", de 1938. O objetivo de seus idealizadores - capitaneados pelo poeta e romancista Antônio Sales (1868 - 1940) - era despertar, na sociedade, o gosto pela arte. A importância do movimento se deu pelo fato de ele haver proporcionado a consolidação do Realismo, o nascimento do Simbolismo, no Ceará, e prenunciado - conforme alguns historiadores - as marcas do movimento modernista iniciado em São Paulo, em 1922. Leonardo Mota, intitulava-se, o "último boêmio do Ceará" ou, para poucos, o "judeu errante do folclore nacional". Publicou os livros: "Cantadores" (1921), "Violeiros do Norte" (1925), "Sertão Alegre" (1928), "No Tempo de Lampião" (1930), "Prosa Vadia" (1932), "Padaria Espiritual" (1938), "Notas para a História Eclesiástica do Ceará" e "Adagiário Brasileiro" (Obra póstuma, em 1980). Declarou: "Fui um intransigente na defesa do sertão esquecido, do sertão caluniado e só lembrado quando dele se quer o imposto nos tempos de paz ou o soldado nos tempos de guerra. E fui sobretudo, contra o labéu de cretinice do sertanejo nordestino que orientei a minha documentada contradita: em todo o meu - Cantadores - e nas conferências que proferi, de Norte a Sul, pus o melhor dos meus empenhos em fazer ressaltar a acuidade, a destreza de espírito, a vivacidade da desaproveitada inteligência sertaneja, de que os menestréis plebeus são a expressão bizarra e esquecida, apesar de digna de estudos." Leonardo Mota é nome de rua em Fortaleza (1952). Na sua terra natal, Pedra Branca, existe a Biblioteca Municipal Leonardo Mota, em sua homenagem e também um monumento na praça que também leva seu nome, em frente ao local onde existiu a casa onde o "Príncipe dos folcloristas brasileiros" nasceu, um dia. Pedra clara, pedra branca, pedra!

João Scortecci