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O CAMPO MINADO DA PRAÇA PRINCESA ISABEL

Em 1972, quando vim morar em São Paulo, minha diversão era passear no supermercado Peg-Pag, esquina das ruas Martim Francisco e Palmeiras, no bairro Santa Cecília, tomar café no aeroporto de Congonhas, sopa de cebola no Ceasa, chopp com ovos de codorna no Bar Novidades, na rua D. Veridiana e comer ossobuco no Giovanni, na Rua Timbiras, quase esquina com a Praça da República. No roteiro de visitas – sonhos realizados ao longo do mesmo ano – o Museu do Ipiranga, o Shopping Iguatemi, a Estação da Luz, o Butantã, o Parque da Água Branca e a Praça Princesa Isabel, no bairro Campos Elíseos. Antes de se chamar “Praça Princesa Isabel”, o local já foi denominado “Campo Redondo” e “Largo dos Guaianases” e fazia parte do terreno da Chácara Charpe ou Chácara Mauá, por ser propriedade do Barão e Visconde de Mauá. Sua atual denominação foi uma iniciativa do vereador Henrique Queiroz, na sessão da Câmara Municipal, em 19 de novembro de 1921, dias depois do falecimento da Princesa Isabel, em 14 de novembro de 1921. No final do ano de 1941, foi instituído um concurso internacional de maquetes para criação de um monumento em homenagem ao Duque de Caxias (Luís Alves de Lima e Silva, 1803-1880), considerado o maior herói militar brasileiro. Vitor Brecheret (1894-1955) foi o vencedor, entre 30 concorrentes, concebendo um modelo de gesso do monumento que, ao todo, tem aproximadamente 48 m de altura. O monumento só foi instalado e inaugurado em 1960, e Brecheret, falecido cinco anos antes, não pôde contemplar sua obra. Hoje fiz o meu pedal de bike pelo centro de São Paulo: Praça da República, Theatro Municipal, Estação Júlio Prestes, Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca de São Paulo, Vale do Anhangabaú, Largo do Paissandu, Praça dos Correios, Mosteiro de São Bento, Parque Jardim da Luz, Sala São Paulo, Hotel Dan Inn Planalto, Bar Brahma, Galeria do Rock e Praça Princesa Isabel (foto), que, infelizmente, virou abrigo de pessoas que viviam em hotéis no entorno da “cracolândia” e foram despejadas em ações de reintegração de posse da Prefeitura de São Paulo. Numa área de 16,6 mil m², entre as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias, cerca de 400 barracas e mais de 1,5 mil pessoas, formam uma das maiores concentrações de sem-teto da cidade. Uma ou duas vezes por mês pedalo na região central da cidade, principalmente depois que comecei a pedalar sozinho, isso nos dois últimos anos, devido à epidemia da Covid-19. Hoje – confesso – fiquei assustado com a quantidade de pessoas morando nas ruas. São milhares! Estou postando a foto com tristeza, dor e aperto no coração. Tristeza! O espaço estava policiado – contei sete viaturas da polícia militar – e vários grupos de voluntários fornecendo roupas, alimentos e conforto espiritual. Não presenciei violência ou qualquer situação de perigo. Nada além de abandono, miséria, sofrimento, dor, fedor e morte.

19.03.2022