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O DANTE NEGRO - DURADOURO, ESTÁVEL E PERMANENTE

O poeta catarinense Cruz e Sousa (João da Cruz e Sousa, 1861 - 1898) foi um dos precursores do simbolismo no Brasil. Com a alcunha de “Dante Negro” ou “Cisne Negro”, segundo o professor, sociólogo e crítico literário Antonio Candido (1918 - 2017), Cruz e Sousa foi o "único escritor eminente de pura raça negra na literatura brasileira, onde são numerosos os mestiços." Filho de escravos alforriados, recebeu desde pequeno uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – cujo sobrenome adotou. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do teuto-brasileiro naturalista, botânico e professor Fritz Müller (Johann Friedrich Theodor Müller, 1882 - 1897), com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Müller foi um pioneiro no apoio factual à teoria da Evolução, de Charles Darwin, e exerceu grande influência sobre Cruz e Sousa. Seus poemas são marcados pela musicalidade - uso constante de aliterações -, pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca. Em 1893, casou-se com Gavita Rosa Gonçalves (costureira) e com ela teve quatro filhos que morreram, prematuramente, de tuberculose. “Broquéis” é o seu livro de estreia (1893), obra composta por 54 poemas, sendo marcada pela influência de Baudelaire, que traz o mal como algo belo. “Lésbia”, o seu poema mais marcante: “Cróton selvagem, tinhorão lascivo,/ planta mortal, carnívora, sangrenta,/ da tua carne báquica rebenta/ a vermelha explosão de um sangue vivo./ Nesse lábio mordente e convulsivo/, ri, ri, risadas de expressão violenta/ o Amor, trágico e triste, e passa, lenta,/ a morte, o espasmo gélido, aflitivo.../ Lésbia nervosa, fascinante e doente,/ cruel e demoníaca serpente/ das flamejantes atrações do gozo./ Dos teus seios acídulos, amargos,/ fluem capros aromas e os letargos,/ os ópios de um luar tuberculoso.” Em vida publicou, ainda, “Missal” (1893) e “Tropos e Fantasias” (1885). Obra póstuma: “Últimos Sonetos” (1905), “Evocações” (1898), “Faróis” (1900), “Outras evocações” (1961), “O livro Derradeiro” (1961) e “Dispersos” (1961). Cruz e Souza morreu jovem, no dia 19 de março de 1898, de tuberculose, com 36 anos de idade.

João Scortecci