Pesquisar

MALLARMÉ, KAFKA E VIRGÍLIO: UM DIA ANTES DE MORRER!

O poeta francês Mallarmé (Stéphane Mallarmé, 1842 - 1898), pressentindo a chegada da morte, pediu à mulher Marie e à filha Geneviève, que queimassem parte de seus escritos, como fizeram o escritor austríaco Franz Kafka (1883 - 1924) e o poeta romano Públio Virgílio Maro (70 a.C. – 19 a.C.). No dia seguinte, Mallarmé morreu asfixiado. Não há registros de que o seu pedido tenha sido atendido. Nos anos 1980, conheci – da boca de um poeta de rua - a obra de Mallarmé. Jantava no restaurante Piolin, da Rua Augusta, em São Paulo, quando o vate apareceu. Puxava de uma perna. Disse-me: “Vou recitar um – curto – poema de Mallarmé. Você gosta de poesia?”, perguntou-me. “Sim”, respondi. Subiu numa cadeira do Piolin e - para poucos - declamou: “Cai/ a pluma/ rítmico suspense do sinistro/ sepultar-se/ nas espumas primordiais/ de onde há pouco sobressaltara seu delírio a um cimo/ fenecido/ pela neutralidade idêntica do abismo.” Comprei o seu livro – mimeografado - e o esqueci, no fogaréu do tempo. No corpo - coração partido - a morte de uma poeta próxima, num terrível incêndio acidental. Sua cama - forrada de livros - pegou fogo. Cumpriu a promessa. Nunca duvidei. Mallarmé e os abismos da poesia! 

João Scortecci