Dia 30 de janeiro é o "Dia da Vaia no Ceará". Data singular, em que se comemora - com vaia - o dia que o povo da cidade de Fortaleza, vaiou o astro-rei - o Sol. A vaia aconteceu numa sexta-feira, na Praça do Ferreira, no dia 30 de janeiro de 1942. Isso depois de três dias de muita chuva na cidade. O povo não aguentava mais. Não é - ou não era - comum, chover tanto, assim, no Ceará. O tempos são outros! Dizem que os vaiadores do Sol - frequentadores da praça - esperavam ainda mais chuva, quando - inesperadamente - o astro-rei "cuspiu" do meio de nuvens escuras, um jato de luz, contrariando a todos. Surpresos e inconformados, aplicaram uma tremenda vaia no danado do rei sol, rei posto. Vaia é coisa séria e merece respeito. Não é fácil lidar com ela. O seu significado é messiânico e tribal. É o que dizem! Vaia é o fervor do espírito que grita! Dizem os poetas. Lembro-me de ter levado duas, talvez três, tremendas vaias na vida. Não conto aqui - e nem registro - as vaias silenciosas do espírito. Devem ter sido muitas. Apenas as merecidas! As tribais. A primeira foi no ano de 1970, quando era técnico do time de futebol de salão nas olimpíadas do Colégio Cearense, em Fortaleza. Tirei da quadra um jogador queridíssimo da turma e coloquei no seu lugar um tremendo “perna de pau”. Queria dar velocidade no jogo. Não funcionou. Errei feio. Levei vaia! A outra vaia foi no ano 2000, durante a 16ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, quando tentava organizar a entrada de um grupo de professores no no pavilhão da bienal. Foi hilário! Pedi calma - um grupo de aproximadamente quarenta pessoas - e que fizessem fila. Foi um desastre. A danada da vaia veio forte — tribal — e a situação, infelizmente, saiu do controle. Era, na época, Diretor da CBL e estava no meu "plantão". Tive que chamar a segurança do evento e colocar o rabo no meio das pernas. Acabei liberando a entrada dos professores. A vaia é algo incontrolável. Nela, tudo junto: desagrado, desaprovação e protesto. Vaia é algo absoluto! Basta alguém começar e pronto! É a vida com suas singularidades de selva. Primitivas, messiânicas e humanas.
João Scortecci