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Os cem primeiros dias na Presidência da Abigraf / Revista Abigraf 309

O período conhecido como “cem primeiros dias” é o termômetro de um gestor à frente de um governo, empresa ou entidade associativa.
A maioria das pessoas talvez desconheça o motivo e o significado histórico do ato, representativo ou não, de se cobrar de um gestor o “balanço” dos seus cem primeiros dias de trabalho. A tradição remete ao período de cem dias de governo de Napoleão Bonaparte, quando de seu retorno a Paris, em 20 de março de 1815, após sua fuga do exílio em Elba, uma simpática ilhota localizada no Mar Mediterrâneo. O retorno de Bonaparte ao poder desagradou às potências europeias, representando uma ameaça ao equilíbrio político da região. Determinados a removê-lo do trono, liderados pelo Duque de Wellington e pelo general Gebhard Leberecht von Blücher, muitos dos países que tinham se oposto ao imperador francês - como Inglaterra, Rússia, Prússia e Áustria - formaram a chamada “Sétima Coligação”, que declarou guerra a Bonaparte - considerado, então, oficialmente, um “fora da lei” -, levando-o à derrota, em 18 de junho de 1815, na histórica Batalha de Waterloo. Esse confronto marcou o fim do período dos cem dias de seu governo e a restauração de Luís XVIII ao trono francês. Bonaparte foi, então, novamente exilado, dessa vez na ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821, aos 52 anos de idade.
Por analogia, tem sido assim: nos cem primeiros dias de trabalho, o gestor precisa, incondicionalmente, mostrar e justificar a que veio. Encerra-se, também, oficialmente, o chamado “período de trégua”, da paciência, do “tudo é perdoado”.
Na carta que escrevi aos “Cavaleiros de Gutenberg”, quando de minha posse, em 1º. de junho de 2021, na Presidência da Abigraf, Regional São Paulo, registrei, oportunamente, o meu plano de trabalho: dar continuidade aos grupos empresariais, melhorar e aperfeiçoar a comunicação da entidade com o mercado e seus associados e relançar, com glamour, o 3º Prêmio Paulista de Excelência Gráfica - Luiz Metzler, que, devido à epidemia de Covid-19, ficou dois anos fora do ar.
Os cem primeiros dias na direção da entidade foram intensos, de muito trabalho, de resultados e, mais do que tudo, gratificantes! Agradeço a colaboração dos diretores e, principalmente, o apoio do time da casa que, com inteligência, adaptou-se prontamente ao meu estilo prático e veloz. Relendo o sociólogo e filósofo alemão Ralf Gustav Dahrendorf, renovo minhas apostas de gestão no trabalho coletivo e plural. Gosto da máxima: “Erra-se menos. Aprende-se muito!”
As ameaças estruturais ao setor e à indústria gráfica continuam - graves ou gravíssimas - e assustam o mercado. A desindustrialização do setor, o desemprego exponencial, a inflação de dois dígitos, a falta de insumos básicos e, se não fosse pouco, estamos diante de uma iminente crise energética. Gosto do significado da palavra “esperança”. Para muitos, algo passivo e frágil. Esperança - uma das três virtudes teologais, como a fé e a caridade - é uma ferramenta essencial para quem vê como possível a realização daquilo que deseja e, sobretudo, confia em coisas boas e possíveis.

Na sorte, à continuidade do trabalho, com alma de Gutenberg!

João Scortecci