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LARGO DA PÓLVORA, EXECUÇÕES PÚBLICAS E O ESPÍRITO DA DOR

No Largo da Pólvora, no século XVIII, existia um armazém de “explosivos” e era palco para execuções públicas, no distrito da Liberdade, no centro da cidade de São Paulo. Em 1832, a Prefeitura de São Paulo mandou demolir o armazém e o nome ficou. No Largo, foi construído o edifício Jahu, um jardim ao estilo oriental, erguido no início do século passsado, quando da imigração japonesa, três lagos, com peixes ornamentais e os bustos de “Ryu Mizuno”, pai da Imigração Japonesa no Brasil e de “Umpei Hirano”, fundador do primeiro núcleo Japonês no Brasil, a “Colônia Hirano”, de 1915, localizada na cidade de Cafelândia, interior de São Paulo. Visitei o Largo da Pólvora, pela primeira vez, no ano de 1977, quando funcionário da empresa japonês, a F.K., meu primeiro e único emprego, antes de fundar a Scortecci Editora, no ano de 1982. Lembro-me que fiquei encantado com a beleza do lugar, com as carpas, os lagos limpos e, o clima exótico e oriental do espaço. Estava em casa. Revisitei o “Largo da Pólvora” ano retrasado, em 2020, dentro de um pedal de bike, no auge da pandemia da Covid-19, e pude observar, com tristeza, sinais de abandono. Voltei lá, mais uma vez, no início do ano de 2022, em outro pedal de bike, e a decepção foi ainda maior. Abandono total, muita sujeira, bancos pichados, carpas mortas, apodrecidas, boiando nos lagos do distante oriente. Vizualizei, ali mesmo, o “espírito da pólvora” o armazém de explosivos - perigosamente - e também, o paredão da morte e o palco cruel das execuções públicas. Estavam todos lá. Vivos! Sombras, cheiros de dor, gritos, medo e morte, fazendo história. Contornei no pedal de bike as Ruas Tomás Gonzaga e Américo de Campos e subi, lentamente, a Avenida da Liberdade, na direção - até quando, não sei - do caminho de volta. Depois da pandemia iniciei, sem volta, pedais solitários, pela cidade de São Paulo. O bairro da Liberdade, passando pelo centro da cidade, indo na direção da Paulista e depois, descendo a Consolação, é um dos caminhos que sempre faço. Tenho outros, esse é um dos preferidos. É quando volto no tempo, alimento as carpas, sento nos bancos da praça, medito e rezo de mãos juntas e converso, demoradamente, com Mizuno e Hirano, amigos de espírito, provavelmente irmãos, de tantos outros lugares e mundos distantes. Quem sabe!