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VICENTE CELESTINO: CAMARÁS, CÓRREGO DAS PACAS, ÉBRIO E MACUNAÍMA

“Camaragibe” significa "rio dos camarás" (camará: a planta + rio) arbusto que cobre grandes áreas nas Américas Central e do Sul, seu habitat natural. Do paço do “Memorial da América Latina”, na Barra Funda, avisto - do outro lado do Córrego das Pacas -, uma pequena praça arborizada, simpática, até então “não notada” por mim. Desafio: ir até lá! Atravesso a Avenida Pacaembu, subo a Rua Mário de Andrade, entro na Rua Lopes Chaves, lado oposto à casa de Macunaíma, e chego, finalmente, na Rua Rio dos Camarás, conhecida no mapa da cidade, como Rua Camaragibe, acesso ao meu destino: Praça Vicente Celestino (Antônio Vicente Filipe Celestino, 1894 - 1968). Sombras, silêncio, vazio alheio, bancos limpos e alguma paz. Estaciono a bike no dorso de uma pequena árvore. Ela nos aceita. Bebo água do ébrio. Na cabeça - lembranças da vida - e no coração: versos de infortúnios: “Tornei-me um ébrio na bebida, busco esquecer aquela ingrata, que eu amava e que me abandonou...” Algo assim. Apedrejado de cansaço e com uma fome feroz, compro pão com mortadela. “Cada colega de infortúnio é um grande amigo que passa veloz, que embora tenham, como eu, seus sofrimentos”. É a vida. Tiro fotos e carrego na boca da manhã de sol intenso, versos de Drummond. E agora João? A cidade de São Paulo é mesmo intensa! Ela - sempre - me surpreende. Gosto dela, das pessoas, dos lugares. Nela escrevo uma das minhas muitas histórias. Outras, guardar para um depois, qualquer. Pacas, camarás, macunaímas, ébrios, memórias e mais fotos, tudo nas cercanias do instante. “Celestinas” da hora, quando escuto um grito de susto e o som de uma freagem de carro. Nada de grave. Vida que segue! Bebo mais alguns goles de água do ébrio. Contorno o Córrego das Pacas, entro na Rua Carlos Drummond de Andrade e, na direção da volta, de mais algumas páginas escritas, de um poema passageiro, que agora escrevo, para não esquecê-lo, de mim mesmo. Vicente Celestino, faleceu no dia 23 de agosto de 1968, em São Paulo, aos 74 anos de idade. 

João Scortecci