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MARGARIDA - HERANÇA DE VOVÓ CORAÇÃO

Das graúnas. Pássaro de plumagem negra, canto e candura. Assim era Tia Margô (Maria Margarida Ventura de Paula, 1919 - 2002), irmã mais velha do meu pai Luiz Gonzaga, filha de João Batista de Paula (O Batista da Light) e Sarah do Carmo Paula, avós paternos. Margarida cantava, tocava piano, sanfona e harpa. Candura de coração dos índios Cariris, herança do sopro de Maria Monteiro (“Vovó Coração”), filha do português Monteiro, cristão novo, que no ano de 1755, embarcou para a Capitania do Ceará, fugindo das perseguições religiosas promovidas pelo ministro português Marquês de Pombal. Monteiro fixou residência no lote compreendido da foz do Rio Jaguaribe à foz do Rio Mundaú, região habitada pelos índios Cariris, hoje Quixadá e Região. Assim é o Ceará! Terra das graúnas, das canduras e da Família Paula. O pássaro preto vivia “solto” no seu apartamento da Rua Tupi , número 171, apto 21, no bairro de Santa Cecília, São Paulo. A graúna adorava chamego na cabeça e - no melhor das lembranças - voava asas de sono, ao compasso de “O Guarani”, de Carlos Gomes. Margarida teclava, sorria e alegrava o sorriso do mundo. Quando moça - ainda em Fortaleza - encantava no footing da praça. “Luiz, toma conta da sua irmã”. "Ela é muito bonita!" Palavras de Mãe, conselhos de vovó Sarah. “Margarida, olho vivo nos moços danados!”. “Se algum moço encarar você faça cara feia.” E assim foi. No seu primeiro “footing na praça” arrancou paixões. Fez fila! O jeito foi “caretar” muito. Mesmo assim não lhe deram sossego. Margarida fez tanta careta que um moço do “footing” resfolegou: “A moça deve ser doida da cabeça!” Risos. Hoje tia Margô voa, canta e toca canduras de graúna. Asas, saudade e voos, de uma vida inteira. A imagem de Nossa Senhora da Guia, do século XVIII, padroeira de Avelar e dos Navegantes, herança dos Monteiros é quem nos guarda no tempo.

João Scortecci