Mário Capelo (1927 - 2017) foi o Professor Pardal, personagem de ficção criado em 1952 por Carl Barks, para a produtora “Walt Disney Company”, da minha - desvairada - infância, na Fortaleza, dos anos 1960. Infância escrita e versada no livro “Na Linha do Cerol - Reminiscência poéticas”, publicado em primeira versão, em 2003, pela Scortecci. Mário Capelo ilustra a página 32 do livro. “Mário Fernão Capello Gaivota, da fábula de Richard Bach, era um inventor de engenhocas. Leu Cuba de Fidel Castro, escutando a "Voz da América" e fez "Times", com cigarros marca Pall Mall. Até hoje é Papai sabe tudo. Arauto! Um monarquista, apaixonado por reis, rainhas e princesas. No encanto das ideias: um mensageiro de luz”. Uma mistura perigosa de Christopher Lloyd, o Indiana Jones e o professor Pardal, o inventor famoso da cidade de Patópolis, amigo das pessoas e avoado que só ele. Tio Mário era tudo isso e muito mais. Vivia no reino da fantasia. Foi astronauta com “Yuri Gagarin”, navegador e descobridor de muitos mares com “Américo Vespúcio”, aviador dos céus com Santos Dumont e avatar de “Peter Pan”. Gostava de jogar tênis e dirigir o seu potente MF Lafer, vermelho, sem capota, pela Avenida Beira Mar e nas areias da Praia do Futuro, em Fortaleza. Admirava suas ideias, invenções, maluquices, acrobacias e aventuras. Toda nova invenção - as mais loucas da cabeça - corria e cochichava a doideira no pé do ouvido do meu pai Luiz, o Tubarão preto. “Mário isso é loucura”. Dizia. “Não vai dar certo.” Insistia. “Esquece isso!”. Recomendava. Adiantava falar? Não. Mário Fernão Capello Gaivota não era deste mundo. Flutuava! O seu barco viking naufragou na praia do Meireles, afundou com o tesouro de muitos sonhos. Seu foguete estrelar explodiu antes da decolagem. Muita pólvora! O seu doce coração espanhol foi espada justa nas lutas de D'Artagnan e o espírito iluminado de Hobin Hood. A nossa eterna Wanderleia, cadela pequinês, foi presente dele. Trouxe a cria sem avisar e a soltou - feliz - no latifúndio da Vila Santa Teresinha, onde morávamos. Naquele dia mágico de apegos e paixões deitou-se na rede do terraço, conversou em voz alta consigo mesmo, trocou os vários assentos dos vasos sanitários dos banheiros da casa e foi embora, em silêncio. Foi dono de um curtume de couro, de uma sapataria e de uma loja de ferragens. Tio Mário tinha medo de fantasmas e almas penadas. No velório do seu sogro, “Seu Furtado”, algo assim, o lugar estava apinhado de gente. Naquela época, o caixão com o morto, era colocado na mesa de jantar da casa. Inacreditável! Era isso mesmo. Na hora de fechar o caixão - de apertar as seis borboletas do adeus - uma delas - no aperreio da emoção - beliscou a ponta da sua gravata. Ficou preso. Assim que subiram o caixão e o levaram na direção do carro do cortejo fúnebre, ele foi puxado, junto. “O morto está me puxando!” Gritou. "Socorro!" Depois, desmaiou ali mesmo. Hoje - sempre que o vejo na memória - recordando suas histórias, o encontro no mar da ponta da praia. “Olá tio Mário!”. Olhos do mar! Neles - invariavelmente - mora a doce presença do tempo. Sinto o sol pegando fogo, ardido que só ele. Sinto o vento das areias, o voo veloz das lembranças. Vejo Mario Fernão Capello Gaivota e toda a minha infância: feliz e inesquecível.
João Scortecci
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