Em 18 de julho de 1967, dois aviões se tocaram no céu do Ceará e
deixaram no ar um rastro de mistério que perdura há 53 anos. Foi numa
terça-feira de tempo bom e céu azul. Retornando de Quixadá para Fortaleza, a
bordo de um bimotor piper aztec (cedido pelo governo do estado) e acompanhado
de outros cinco passageiros, estava o ex-presidente Marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco. Castello Branco tinha perfil considerado “moderado”
entre os altos escalões das Forças Armadas. Era a primeira vez que visitava o
Ceará desde sua saída da presidência. Na noite anterior, havia visitado a escritora
Rachel de Queiroz, sua amiga e conterrânea de Quixadá, do meu avô João Batista
de Paula, O Batista da Light. Na viagem de volta, próximo de Fortaleza, ocorreu
o incidente que dividiria os brasileiros. De um lado, aqueles que acreditavam
(e ainda acreditam) em conspiração seguida de assassinato. Do outro, os que
creem em uma terrível fatalidade. A falta de transparência na condução das
investigações e perguntas até hoje sem respostas alimentam especulações de
crime com motivação política. O telefone de casa tocou cedo. Minha mãe Nilce
atendeu a ligação. “Luiz é urgente. É o General T...” Papai escutou em silêncio
o General e disse, antes de desligar. “Estou indo”. Minha mãe Nilce - assustadíssima
- indagou: “Luiz, o que aconteceu?” Papai respondeu: “O avião do Castello Branco
caiu em Messejana.” Estão me chamando. Mamãe Nilce sentenciou: ”Eu vou junto”.
E foi. Naquele dia trágico voltaram tarde da noite. Silenciosos. O que de fato -
e de verdade - aconteceu? Mamãe Nilce - isso já nos anos 80 - contou-nos o que viu
e escutou nas linhas da tragédia. Eu sei o que vi! Outra pessoa - próxima - sabe
de tudo! Insistia, sempre. Esperamos 50 anos pelo seu depoimento. Nada. Guardou
o segredo. Morreu no ano de 2017 e nos deixou no silêncio.
“O morto esquecido é o único que repousa em paz” (Nelson
Rodrigues).
03.02.2021
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