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SANFONA E MEUS INCOMPLETOS MUNDOS

A vida é veloz! Palavras - na ordem do dia - da mamãe Nilce. Ela faleceu em 2003, aos 76 anos de idade, no dia 24 de setembro. Tenho uma foto dela no móvel da sala de jantar. Passo de olho - olhando - e jogo um beijo, doce e cheio de saudade. Ela sabe. Eu sei. Isso nos basta! Na verdade retribuo o seu alô de uma vida inteira - João aqui é mamãe - de todos os dias, na hora das Marias, seis da tarde. Setembro é a época do ano que fico calado, reservado e triste. Acontece. Nilce Scortecci tocava acordeon, instrumento musical aerofone, de origem alemã, composto por um fole, palhetas livres e duas caixas harmônicas de madeira. Nada sei sobre sua compra, se foi presente ou não. quando me lembro: ela já existia. Era vermelha perolada. Não me lembro da marca, do som e nem das músicas que mamãe Nilce tocava. Trancava-se na biblioteca da casa - isso no Ceará dos anos 1960 - e lá ficava. Ela, suas músicas e seus livros. Algumas lembranças de infância são assim: frágeis e incompletas. Gosto de pensar que são fragmentos de tempo algum. Grãos de areia no meu latifúndio espiritual. Outro dia soube o paradeiro da sanfona. Ela ainda existe. Está com sua neta Ana Luiza, caçula, do meu irmão José. No prego das promessas: virar a ampulheta, saber da cor do seu som, abrir sua caixa de pandora e reencontrar - talvez - os meus incompletos mundos. Nilce Scortecci nasceu no dia 21 de junho de 1927, em Dois Córregos, interior de São Paulo. Em vida publicou os livros de poesia: Sentimentos idos e vividos (1988), Magia da Palavra (1992) e Reinício (1995), todos pela Scortecci Editora. Em 2021, in memoriam, a editora publicou uma coletânea com os três livros de nome "Todas as Palavras".

João Scortecci