Pesquisar

"CASTILHO" VOADOR

Em tempos de grama sintética! Fui “Castilho Voador”. Quando menino - isso nos anos 1970 - mesmo sendo torcedor fanático do Fortaleza, fiz teste para goleiro e acabei passando na “peneira” do Ceará. Fui fazer “peneira”, escondido da minha mãe, no horário da aula de inglês. Na volta - feliz da vida -, contei a verdade. “Eu passei”. “Mãe, vou ser jogador de futebol!” gritava. “Quer morrer de fome?”. “Você precisa é estudar - isso sim - ser alguém na vida!” No ano de 1971 conheci o goleiro Castilho (Carlos José Castilho, 1927 - 1987), bicampeão mundial de futebol, quando, então, técnico de futebol do Fortaleza. Frequentávamos - depois dos jogos - os vestiários do PV - Estádio Municipal Presidente Vargas -, até que um dia Castilho me expulsou de lá: “Fora! Fora!”. “Aqui só tem homem pelado!” Gritou, aos berros! Ele tinha razão. Nunca mais nos falamos. Eu era seu fã! Carlos Castilho era um homem triste, estava sempre de mau humor, cara fechada, de poucos amigos. Em fevereiro de 1987, suicidou-se. A tragédia, na época, abalou-me além da conta. Desisti de vez de ser “goleiro voador.”. Joguei futebol em vários times amadores e até que “catava” bem no gol. Estou exagerando! Dois defeitos me roubaram a sorte de campeão: a miopia e o fato de pular, só para o lado esquerdo do gol. Um dia, descobriram a minha “fraqueza” e eu virei, então, alvo de chutes no canto direito e um “frangueiro” de carteirinha. Desisti de vez. Minha mãe Nilce sabia das coisas. Eu - como goleiro - seria um desastre. Fomos tricampeões mundiais de futebol no dia do seu aniversário de 43 anos: 21 de julho de 1970. Meu pai Luiz, também foi goleiro na adolescência e pelo que andei pesquisando na família, a síndrome é de toda a tropa masculina. Existe um dito futebolístico que diz: “Não podemos elogiar um goleiro antes do término do jogo!” Existem outros. O mais trágico de todos: “O lugar onde o goleiro pisa não nasce grama!”. Vez por outra ainda sonho catando um balaço, no ângulo. Leve, magro e voador. Sonho também com um campo e futebol - ruim que só ele - onde a bola pinga na minha frente e eu sou obrigado a espalmá-la, por cima do travessão. No meu tempo de menino voador, goleiro de verdade, não espalmava a bola e nem rebatia.  “Encaixava” todas!