o Batista da Light (João Batista de Paula), avô paterno, nasceu na cidade de Quixadá/CE, no dia 26 de março de 1895.
Filho de José Ferreira de Paula Filho e Maria Carminda do Carmo Paula, ambos
analfabetos e trabalhadores rurais. No ano de 1919 casou-se com sua prima
legítima, por parte de mãe, Sarah do Carmo Paula (09/07/1894). Tiveram três
filhos: Margarida Maria de Paula Ventura (26/09/1919), Luiz Gonzaga do Carmo
Paula (19/02/1923) e João Batista de Paula Filho (28/07/1925). Batista (era
assim que gostava de ser chamado) começou a trabalhar com 12 anos de idade
quando deixou a casa de seus pais, em Quixadá, para ser caixeiro da mercearia
de Pedro Gurgel do Amaral, em Senador Pompeu, uma pequena cidade localizada às
margens do Rio Codiá, no coração do Ceará. Dois anos depois, em 28 de junho de
1909, mudou-se para Fortaleza. Empregou-se na Casa Correia. De lá saiu para a
Casa R. Guedes que funcionava no antigo local do Cartório Pergentino Maia. Com
dezessete anos, no ano de 1912, foi admitido pela South América, no serviço de
recebimento de material para a instalação da Usina do Passeio Público e as
linhas de bondes. A South América durou pouco. Construiu alguns trechos da
Estrada de Ferro de Baturité, mas, em novembro de 1913, faliu. No ano de 1914,
Batista conseguiu emprego de Almoxarife na Ceará Light (Ceará Tramways Lyght
and Power Cº Ltd) que no ano de 1911 havia celebrado com a municipalidade um
contrato por 75 anos para a implantação e exploração de bondes a tração
elétrica, na cidade de Fortaleza. Foi caixa durante seis anos. Depois chefe do
tráfego, chefe do escritório, assistente do gerente e, finalmente, em 26 de
setembro de 1934, gerente. Foi gerente durante vinte anos. No dia em que o
primeiro bonde elétrico chegou à Praça do Ferreira vindo de Joaquim Távora, o
povo, debaixo das árvores, o recebeu com oração. Alguns passageiros sentavam-se
no banco do bonde, davam uma cédula de cinco mil réis ao condutor e diziam, sem
pressa. - Quando acabar, me avise. A Usina para fornecimento de energia
elétrica a domicílio foi construída pela Ceará Light em 1912 e várias vezes
ampliada até 1945. O primeiro gerente inglês da Ceará Tramways Lyght and Power
Cº Ltd foi Mr. Mackenzie, presente na companhia desde os tempos da instalação.
Pouco antes da guerra de 1914, foi contemplado com um prêmio da Loteria da
Espanha. Deixou a companhia, tomou um navio e voltou para Londres. Foi lutar na
guerra e morreu logo depois. Veio substituí-lo Mr. Scott que morou em Fortaleza
de 1913 a 1932. O último gerente inglês, Mr. Hull (Francis Reginald Hull, 1872-1951), conhecido nacionalmente como
o Sr. Baitola, bissexual assumido, manteve-se no cargo, até 1934, quando uma
lei brasileira o proibiu do exercício da função. João Batista assumiu o comando
como Gerente da Ceará Light a partir de 1934. No dia 1° de junho de 1946, por
solicitação do próprio Batista, foi decretada pelo governo Federal, a
intervenção na Ceará Light, sendo nomeado interventor o capitão Josias Ferreira
Gomes. Motivos: O encarecimento do material de conservação e reparação, o
crescente aumento dos salários e a recusa dos poderes públicos de autorizar o
aumento das tarifas de passagens. Batista permaneceu na gerência da Ceará Light
por 42 anos até sua aposentadoria em dezembro de 1954, com sessenta anos de
idade. Faleceu em 1966, aos 71 anos de idade. Seu velório mobilizou a cidade de
Fortaleza. Eu estava lá. Tinha 10 anos. Pude vê-lo morto no caixão, velado,
posto em cima da mesa da sala de jantar. Confesso: a cena, até hoje, marcante
na minha vida.
João Scortecci
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