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CENOTÁFIO DO POETA DESCONHECIDO

Cenotáfio é o túmulo ou memorial fúnebre erguido para homenagear alguma pessoa ou grupo de pessoas, cujos restos mortais estão em outro local ou local desconhecido. Quando criança, no Ceará dos anos 1960, visitei, no maciço de Baturité, no município de Pacoti, o cenotáfio construído pelo comendador Ananias Arruda em homenagem a sua esposa, Donaninha Arruda. Foi o primeiro. Uma capela erguida no meio da serra, na beira da estrada. Fiquei impressionado. Até hoje, quando vejo uma cruz fincada na beira de uma estrada, pergunto-me: quem teria morrido ali? Na cidade de Brasília/DF, na Praça dos Três Poderes, o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves (Tancredo de Almeida Neves, 1910 –1985) é um memorial cívico – conhecido como “Livro de Aço” – para homenagear os heróis nacionais que, de algum modo, serviram para o engrandecimento da nação brasileira. O Panteão foi construído e doado ao governo do Distrito Federal pela Fundação Bradesco e inaugurado em 7 de setembro de 1986.  Eis alguns nomes que constam no “Livro de Aço”: Tiradentes, Tancredo Neves, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Anita Garibaldi, Dom Pedro I, Duque de Caxias, Chico Mendes, Ana Néri, Santos Dumont, Frei Caneca, Getúlio Vargas, Villa-Lobos, Zuzu Angel, Carlos Gomes, Ulysses Guimarães, Tobias Barreto, Euclides da Cunha, Ruy Barbosa e outros. Há também uma lista extensa de candidatos indicados para ocupar um lugar de honra no “Livro de Aço”. Entre eles: Sérgio Viera de Melo, Ayrton Senna, Enéas Carneiro, Vital Brasil, Pedro II, Osvaldo Cruz e Luiz Gonzaga. Por falar no jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador Ruy Barbosa (Ruy Barbosa de Oliveira, 1849 – 1923), o centenário de sua morte é rememorado em 2023. E hoje recebi uma notícia triste, que me emocionou muito. A morte de um poeta de 90 anos de idade, até então inédito, participante de uma antologia da Scortecci Editora. Recebeu seus exemplares de direito de participação na antologia e faleceu, sorrindo, sentado numa cadeira de balanço. Sua filha escreveu no e-mail: “Papai morreu feliz”. Proponho o “Cenotáfio do Poeta Desconhecido” ou, então, um varal de estrelas, na imensidão do universo, pontuando versos e palavras da vida. A poesia salva!