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DAS AUSÊNCIAS

Das mesas e dos pratos do dia. Toalhas de linho. Taças, copos e garrafas. Tudo igual na cabeça, no fogão, nas panelas e no cheiro. Temperos especiais. Especiarias de boca e ninho. Alguns - são e-ternos segredos - de família. De linhagens. Aqueles que as “fadas” do estômago guardam para o almoço de mãe. Na pedra da copa, o livro de receitas da vovó. Ele - sempre ele - de páginas leves, perdi-das e soltas no tempo. Tudo nele rabiscado, do jeito incerto, que ficou e ficou. Recordações. Boas lembranças. Jeito doce, na desor-dem sofrida, das coisas da vida. É assim coração de mãe. Livro no-vo não se abre nunca - continua lá - enfeitando a estante da sala de visitas. Mesas, cadeiras extras, azeites, queijos, pães de forno, azei-tonas roxas, vinhos e brilhos. Olhos que aguardam. Roupas novas, sapatos, vestidos, bolsas, anéis, colares, relógios e dedos ansiosos. De espera. “Cadê o povo meu deus?” Estou faminto! Já com nó nas tripas. Até outro dia - todos - chegavam. Chegavam de um jeito ou de outro. Mas chegavam. Chegavam demorando uma eternidade, mas chegavam. Os de sempre! Silêncio de mães. Silêncio de filhos. Silêncios. E depois? Nada do hoje. Mamãe partiu. Papai partiu. Luizinho partiu. Dói saber de tudo. E a última foto? Ficou para de-pois, ficou para outro lugar, do depois.