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FERNANDO SABINO: "GOSTO DE QUEM GOSTA DE MIM"

Conheci o escritor, jornalista e editor mineiro Fernando Sabino (1923 – 2004) nos anos 1990, em um evento literário na cidade de São Paulo, durante o lançamento do polêmico livro “Zélia, uma paixão”, relato do período em que Zélia Cardoso de Mello esteve à frente do Ministério da Economia, no governo do presidente Fernando Collor de Mello, e sua "relação" com o ministro Bernardo Cabral.  Naquela oportunidade, Sabino e eu trocamos gentilezas, mas não pude lhe contar da importância do seu livro "O Encontro Marcado" (1956) na minha vida de escritor e editor. O livro foi um dos primeiros que li quando ainda morava em Fortaleza/CE. Na época, um sonho: conhecer Fernando Sabino. Nosso "encontro" aconteceu dois ou três anos depois – 1992 ou 1993 – na sede da Rede Bandeirantes de Televisão, no programa de variedades da jornalista e apresentadora Sílvia Poppovic. Além de Sabino, estavam presentes a atriz Lucélia Santos e um músico, cujo nome, infelizmente, não recordo. O papo foi sobre cultura e o que cada um andava fazendo de bom. Na rodada final do programa, Poppovic abriu espaço para perguntas e respostas entre os convidados. Lucélia Santos me perguntou sobre o assunto do meu livro: "A morte e o corpo". O músico perguntou para Lucélia Santos algo sobre o filme "Escrava Isaura" (1977). E eu – apavorado – perguntei ao Fernando Sabino sobre a arte de escrever. "Sabino, o que é uma boa história?" A pergunta não o surpreendeu, e a resposta veio com um delicioso sorriso. "Uma boa história é aquela que pode ser contada!" Silêncio. Poppovic assumiu o programa e o encerrou. A resposta de Sabino até hoje faz parte do meu "entendimento" sobre a arte de escrever. O melhor veio depois, já no pátio da emissora, no bairro do Morumbi, aguardando a chegada de uma Van, que o levaria direto ao aeroporto de Congonhas, com destino ao Rio de Janeiro. Pude, então, abrir o coração e lhe contar sobre a importância do seu livro "O encontro marcado" na minha vida. Sabino, emocionado – juro que vi lágrimas nos seus olhos –, disse-me: “Scortecci, gosto de quem gosta de mim”. Encontramo-nos ainda mais algumas vezes, em bienais do livro do Rio, Minas e São Paulo. Sabino morreu em 2004, aos 80 anos de idade.

João Scortecci