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A VIDA É ISSO, SIMPLES ASSIM

Um dia eu tive 21 anos. Alguns duvidam disso. A vida é assim mesmo: “Desleal e desumana”.  Palavras do meu saudoso pai Luiz. Ele costumava dizer, sempre: “Não adianta comprar um canivete afiado. O inimigo sempre carrega consigo um facão!”. Risos. Papai Luiz adorava contar história - quase sempre engraçadas. Desleal e desumana? Ele, então - com habilidade ímpar que deus lhe deu - detalhava a razão. Contava a história ao gosto do freguês. O mote principal era mais ou menos assim: nós mortais todos os dias acordamos cheios de fé, de entusiasmo e coragem. Somos guerreiros! Acordamos fortes e cheios de energia, dispostos a enfrentar os desafios do dia. Alguns rezam e outros acendem velas. Cada um com a sua proteção ou amuleto da sorte. No bolso - justificava - carregamos um canivete suíço, afiadíssimo. No caminho do destino, já na primeira esquina da sorte, acontece o inesperado. Surpresa? Não. Na vida não há surpresas! Damos de cara com o nosso mais temido e feroz inimigo. Suspense. Pausa. Então ele perguntava: Vocês sabem o que ele carrega? O quê? Insistia, devorando olhos e mentes. Mais silêncio. Arregalava os olhos e gritava: um imenso e afiado facão! Moral da história: não importa o quanto você esteja preparado para os desafios da vida. Lembre-se: o seu inimigo estará - sempre ou mais - armado que você. E como vencê-lo na luta diária pela vida? Gonzaga, na calmaria da fisgada e por fim, no sussurro de segredo revelado, respondia: - Carregue - sempre - o seu canivete suíço do lado esquerdo do peito, junto ao coração. Estou lendo o livro “1942” do João Barone, rebelde baterista dos incríveis “Paralamas do Sucesso”. Doce saber do seu pai “João Silva”, pracinha brasileiro que lutou na II Guerra Mundial. Meu pai Luiz foi do Pelotão Sampaio. Chegou até a embarcar em um navio americano, mas o navio acabou não zarpando. A guerra - felizmente - havia acabado. Minha avó Sarah - da promessa feita pela vida do seu filho Luiz - foi, então, resgatar o anel de brilhantes entregue a um padre da paroquia. Voltou de mãos vazias. O padre safado deu nos cobres com o anel. Hoje, - quase aos 70  anos - compreendo o real significa da máxima “Vão-se os anéis, ficam os dedos”. 

João Scortecci