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NOSTRADAMUS E AS ROSAS DE MACHADO DE ASSIS

"As Centúrias", de Nostradamus. Profecias compiladas em dez conjuntos de versos, cada um com 100 quadras que totalizam 1000 previsões. Não seguem coerência cronológica e foram escritas combinando francês arcaico, grego, latim e provençal, uma das variedades da língua occitana falada na Provença e na metade oriental do Gard, no sudeste francês. Um livro de 100 páginas. Nostradamus (Michel de Nostredame, 1503 – 1566), astrólogo, médico e vidente, sofria de epilepsia psíquica, de gota e de insuficiência cardíaca. A obra "As Centúrias" (parte I, ano 1555), foi publicada pela casa Macé Bonhomme, de Lyon. A parte II, apenas em 1557. A parte III (de origem duvidosa), somente após a sua morte, em 1566. Nostradamus foi o criador da “pílula de rosas” que supostamente protegia as pessoas da peste negra. As pílulas, feitas de botões de rosa, eram ricas em vitamina C e ajudavam a aumentar a imunidade das pessoas. Poeta apotecário! Nostradamus vai e volta na vida com ela é, sempre que algo “trágico” acontece. Tenho um amigo poeta – querido e assustado – que vez por outra me liga e diz: “Nostradamus previu!”. Respondo, sempre: “Verdade!”. Ontem ele me ligou e disse: “Vou te copiar uma profecia do vidente!”. Enviou. Segue: “Quando as liteiras (cadeiras portáteis, com varas laterais, usadas como meio de transporte) virarem em turbilhão / e os rostos se cobrirem com mantos / a nova república terá problemas pelo seu povo: / Aí brancos e vermelhos governarão erroneamente.”. A profecia faz parte do livro “As Centúrias” e está associada – é o que dizem – à Revolução Francesa (1789 - 1799). Desliguei o rádio e fui dormir no sofá da sala. Confesso: nunca andei de liteira. Já entrei numa e achei tudo muito estranho. Pequena e de assento duro. Dormi assustado, ferido, incerto. Sonhei que era o animal que amparava a carga. Não vi quem era o peso, o turbilhão, quem me surrava o suor e sugava o meu sangue ácido. Epilepsia psíquica? Talvez. Levantei-me e engoli um botão de rosas do meu jardim: “De pouco vale; é o diadema da ilusão!”, do poema “As rosas”, de Machado de Assis. E, então, os rostos se cobriram com mantos e silêncios. Amanheci com gota e dor. Deveria ter sido na vida um apotecário, nunca um poeta hipocondríaco.

João Scortecci