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LIVROS RESTANTES DE DENISE FRAGA

O assunto despertou-me. Eram pouco mais das 4 da manhã. Veio da rádio BandNews, logo após a reprise do “O é da Coisa”, do Reinaldo Azevedo. A atriz, produtora e cronista Denise Fraga - não a conheço pessoalmente - falando sobre o seu novo filme "Livros Restantes", dirigido pela roteirista Márcia Paraíso. O filme conta a história de uma mulher "madura" de nome Ana Catarina (papel vivido pela atriz) que, diante da necessidade de se mudar de endereço, redescobre a si mesma, ao reencontrar pessoas do passado, para devolver livros com dedicatórias, anotações particulares, rabiscos pessoais, traços de rodapés, do que foi sua vida, até então. Interessante! Anotei o assunto e dormi novamente. Dois assuntos para escrever: sobre um blog de um amigo onde nele se pode polemizar – liberar a fúria do capeta - sobre tudo que é “espinhoso” e "politicamente incorreto". Na lista de possibilidades, os temas: Política, economia, religião, sociologia, meio ambiente e idiossincrasias. Idiossincrasias? Fui ver: maneiras de ser, particulares de um indivíduo ou de um grupo. Também interessante! Respondi, primeiro, a mensagem do amigo. Disse-lhe: “Você é corajoso e louco!” Ele ainda não me respondeu. Talvez diga: “Muito louco!” Algo assim. Optei, então, em escrever sobre o filme estrelado pela atriz Denise Fraga, ou melhor, sobre o assunto tratado no mesmo: Livros restantes! Ainda jovem - anos 1990, talvez - andei visitando sebos e comprando livros com dedicatórias, anotações de páginas, notas de rodapé. Lembro que até montei um arquivo. Dedicatórias de amor, respeito, secretas, vingativas, indiferentes, infiéis e doentias. Vinte e poucos títulos. Tinha de tudo. Um detalhe, insignificante: letras bonitas, legíveis. Quanta inveja! Já presenciei - foi na Livraria Cultura do Conjunto Nacional onde hoje funciona a Drummond Livraria – um homem atirar o livro na cara do autor porque não gostou da dedicatória, algo assim. Bateu perna e foi embora aos gritos! Tentei - rapidamente - pegar o livro do chão, sem sucesso. O autor, um poeta professor de direito da faculdade do Largo São Francisco, o guardou de pronto, sentando em cima do livro, literalmente. Pensei: Dedicatória de desafeto! Acontece. Lendo a sinopse do filme: “A protagonista, Ana Catarina, decide devolver livros antigos com dedicatórias para pessoas que marcaram sua vida, usando esses objetos como uma bússola para reorganizar sua própria existência após os 50 anos, em uma busca por novos sentidos”. Gelei. Hoje, na casa dos 70 anos – confesso – já me desfiz dos livros indiferentes, chatos, ruins, ingratos, covardes e inúteis. Foram enviados para doação e alguns, poucos, para o lixo. Antes, cabreiro e zeloso, tratei de arrancar as páginas com dedicatórias. Guardei no memorial - apenas - os livros especiais, do coração, aqueles com traços e linhas de rodapé. Adoro - é um aviso - os "aloegos" escritos nos rodapés dos livros, fora da mancha, nas curvas do tempo, no curto espaço dos livros restantes e únicos. Eternos, talvez.   

João Scortecci