Foi mais ou menos assim. Só tive um patrão na vida. Experiência boa! De 1977 até 1982, quando, então, abri a Scortecci Editora. Um dia, do nada, o meu patrão me chamou na sua sala e comeu-me o fígado. Juro: Não me deixou nem respirar. Saí da sala sem saber o motivo da tremenda bronca. Perguntei-lhe: “Patrão o que eu fiz?”. Ele não me respondeu. Antes de deixar a sua sala - assustado e tonto, com nó nas tripas - pude observar no calendário gigante que ficava atrás da sua poltrona o meu nome "João" escrito com caneta piloto vermelha, na data do dia. Ferrei-me! Fui marcado e não sei o motivo. Meses depois – já tinha até esquecido a bronca – cometi, então, um erro grave no serviço. Uma cagada das grandes! Fui chamado novamente na sua sala, esperando pela demissão. Entrei, sentei e olhei o calendário. O meu nome estava lá, na data do dia, desta vez com caneta piloto na cor azul. Ele me olhou nos olhos e docemente começou a me elogiar. Falou das minhas qualidades, da minha inteligência e eficiência no trabalho e do quanto eu era querido por todos. Listou virtudes e predicados, que até então eu desconhecia sobre mim. Prometeu-me ainda um aumento de salário e um novo cargo na empresa. Pensei: O cara está “maluco de pedra” ou está de “sacanagem” comigo. Deixei a sala em silêncio, assustado e confuso da cabeça. No dia seguinte – fervendo - o procurei. Estava decidido: Isso não vai ficar assim! “Patrão, tenho perguntas. E muitas! Quero saber primeiro sobre o calendário com o meu nome: um dia na cor vermelha e no outro na cor azul. Segundo: um dia você me come o fígado, injustamente, sem motivo e no outro – depois de uma tremenda cagada que fiz – você me elogia e me promove na empresa. Exijo uma explicação!” Bati forte. Ele me olhou, sorriu, virou-se para o calendário na parede e respondeu na maior calma do mundo: “A primeira bronca já estava programada: você merecendo ou não. Nada pessoal. Isso explica o seu nome escrito no calendário na cor vermelha. Quanto à promoção e os elogios também já estavam programados. Isso explica o seu nome no calendário na cor azul. E tudo ficou por isso mesmo. Quando pedi as contas e deixei a empresa em março de 1982 para, então, montar a Scortecci Editora, ele me disse: “Boa sorte. Não dando certo no seu novo empreendimento você volta, o seu lugar vai estar aqui, reservado." E tudo ficou por isso mesmo: quando não há explicação, explicado está! É o que dizem.
João Scortecci