Mineiro é uai e desconfiado que só ele. Custoso! A história é da boca do povo. Quem me contou - maravilhosamente bem - foi o escritor e crítico literário mineiro Fábio Lucas. Histórias de Esmeraldas, sua cidade natal, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o “bom mineiro” três coisas são vistas a olho nu da lua. São elas: as muralhas da China, a foz do rio Amazonas e o brilho da cidade de Esmeraldas. Não faço desfeita. E mais: a história dos irmãos gêmeos “Tomorto” e “Tovivo”, nascidos em Esmeraldas, na metade do século passado. “Tomorto” e “Tovivo”, populares e queridos por todos. Por azar do destino o “Tovivo” morreu, assim, do nada. De entojo. Comeu algo ruim e bumba: deu nó nas tripas e caiu morto, nos pés do Cristo do Morro do Mirante. O assunto - repentino e inesperado - “engoliu” toda a cidade luz. Depois de muita murrinha e bateção de lata, o bispo, o prefeito, o Juiz e os políticos da cidade, decidiram, então, promover uma consulta popular - um plebiscito, para decidirem o que fazer. Na cédula - com carimbo da igreja e rubrica do prefeito - as trenzeiras da dúvida. Duas opções: Inverter os nomes dos gêmeos - Tomorto passaria a se chamar Tovivo e vice versa ou, então, divinamente, tentar ressuscitar o Tovivo. E assim foi decidido. O plebiscito aconteceu num domingo de sol e festa. No dia da apuração - juiz, prefeito, padre, imprensa e povo - presentes, veio à surpresa, na hora da contagem dos votos: todos as cédulas estavam em branco! Lasqueira de trem custoso! Alguém, do povo, então, justificou: "Melhor assim. Vai que ganha no voto e ter que ressuscitar o Tovivo?" Melhor não arriscar, né? Arreda! Tomorto viveu até os 100 anos. A desconfiança de mineiro fica logo ali, no brilho de Esmeraldas e no coração do povo. E não adianta apiar de aflição. Beagá que aguarde a vez de piar. Esmeraldas sabe das coisas!
João Scortecci
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