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VOVÓ SARAH E AS TRIPAS DA RAZÃO

Eu desconfiava. Na verdade, sabia e não sabia. Vovó Sarah – isso nos anos 1960 – havia dito, repetido, teimado, mais de mil vezes. Eu, na época, não a escutava. Pensava: Vovó Sarah está caduca! Dizia ela, sempre: “Quando você está enfezado – não importa com o quê – vá ao banheiro e resolva o seu problema!” Risos. E “imaginar” que tem gente que fica três ou mais dias entupido das tripas. Não gosto nem de pensar. Vovó Sarah era uma mulher incrível. Nasceu no século retrasado, no ano de 1894. Dizia que na adolescência esteve com a Princesa Isabel e o Conde d'Eu, em Baturité. Quando? Onde? Não sei. Lendo matéria na “Folha de S. Paulo”, no blog Ciência Fundamental, do jovem mestre e doutor em bioquímica, Eduardo Zimmer, pude, finalmente, dar ouvidos, as pertinências de Sarah: “O intestino pode ser seu segundo cérebro”. O jovem Zimmer começa o seu artigo mencionando o filósofo e polímata da Grécia Antiga, Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.), que afirmava que o “coração” era o órgão responsável pela consciência e que o cérebro era uma espécie de radiador que servia para resfriar o coração. Que doideira! Hoje, as neurociências afirmam outra coisa: “o cérebro é quem coordena funções cognitivas e automáticas, como os batimentos do coração e a respiração”. Zimmer, diz, ainda, com propriedade, que novos estudos têm posto em dúvida a condição “única e egoísta” do cérebro (Eu desconfiava!), como regente absoluto e primário do universo do corpo humano. Aqui cabe uma piadinha antiga: “Quem é mais importante no corpo humano: o cérebro, o coração ou o ânus?” Cérebro e coração protestaram: “Somos nós!”. E ainda, de passagem, humilharam o pobre do ânus, por ser porta dos fundos e feio. Enfezado, o ânus, travou - de vez – isso depois de um banquete. Vingança! Crueldade com os seus irmãos de sangue. O que aconteceu, então, a neurociência explica: o cérebro pirou, queimou neurônio, transpirou, e o coração desapaixonou-se de tudo, perdeu o compasso, acelerou-se e saiu, literalmente, pela boca. No sétimo dia, então, o ânus descansou, feliz, no trono dos justos. O intestino, depois de estudos científicos, tem sido chamado de “o segundo cérebro”, devido à abundância de células nervosas vivendo em suas tripas. Os neurônios intestinais mantêm uma ligação direta com o cérebro, causando profundo impacto no nosso comportamento. Cérebro e intestino trabalham juntos e ditam nossos pensamentos e ações. Existem, ainda, evidências científicas de que as bactérias intestinais – perto de 100 trilhões de microrganismos vivos – comandariam o sistema nervoso e central do nosso ecossistema. Para concluir, segundo Zimmer: “As bactérias intestinais – talvez – atuem como o indivíduo oculto que, por meio de cordéis, manipula as marionetes ou fantoches – nós, no caso.” Vovó Sarah, era mulher sabe tudo. Tento - com amor e aos poucos – lembrar de todos os seus sábios ensinamentos. Outro dia, lembrei-me de outro: “João, não tenha medo dos mortos, tenha medo dos vivos”. Pai, livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a Vossa paz. 

João Scortecci