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RAIMUNDO, O CHUPA-CABRA SILVESTRE

Da imortalidade. Já disse e repito: gosto de palavras novas, até então: desconhecidas! Encontrei “decrepitude”, que significa estado ou condição do que é ou está decrépito, estado de adiantada velhice. Caducidade! Anotei no bloco de notas e morri, no sofá da sala. Acordei – coincidência? – escutando no rádio um jurista com sotaque nordestino falando sobre caducidade: estado daquilo que se anulou ou que perdeu valia. Algo assim. Liguei o PC e abri - finalmente - minha caixa de e-mails, temporariamente, esquecida. Soube então do lançamento do cordel “Raimundo, o chupa-cabra” que conta a história de um vate do baixo Jaguaribe, nascido no sertão do Ceará, já idoso, na casa dos 70 anos, doente dos chifres e alérgico, a sangue humano. Tragédia! Na nota de divulgação da obra a seguinte nota: “Raimundo havia provado sangue humano - uma única vez na vida - e quase morreu de nó nas tripas”. História triste! Raimundo, até então, viveu de sangue de cabras, galinhas, ratos e morcegos silvestres. História infantil? É o que diz o release. O desejo de Raimundo – lendo a sinopse sobre a obra – era tornar-se um verdadeiro vampiro de sangue humano. Frustrado e abandonado pela mulher Das Dores – amor de infância – havia se mudado para Brasília, Capital Federal, em busca de cura, sorte e quem sabe, um novo amor. Pedi – no corpo do e-mail - que me enviassem, então, um exemplar da obra, para análise e publicação de nota no blog Amigos do Livro. Decrépito, aguardo, então, a chegada do cordel vampiresco. Caducidade sem valia! Poética ruim, eu sei. Juro: foi o melhor que consegui. Perdão. Deve ser efeito da vacina de hoje cedo, contra gripe. Ganhei uma picada de beija-flor, com traços de chupa-cabra do Jaguaribe. O braço dói. Acho que cheguei, finalmente, no melhor da minha caducidade, sem valia.

João Scortecci