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CLEONICE BERARDINELLI: VIVER NÃO É PRECISO

Dói pensar – e saber, entristecido, que não pude, não tive, a oportunidade de conhecer pessoalmente a professora e acadêmica Cleonice Berardinelli (Cleonice Seroa da Mota Berardinelli, 1916 – 2023). Perdi, com a minha falta de sorte – ou desatenção, provavelmente – a oportunidade de conhecer junto, do seu jeito, Fernando Pessoa e sua legião de heterônimos. Pobre de mim! Numa matéria na TV – quando da sua morte, em 2023 – a vi declamando versos de Pessoa. Conheci, convivi, fui amigo e próximo de muitos “imortais”. E daí? Nesses 50 anos de livros – ininterruptos – a trupe, covardemente, navegou contra o vento, velozmente. Navegar é preciso? Conto – na dor que só cresce com a maré – apenas os perdidos, os náufragos. E daí? Estou perto dos 70 anos – eu sei, eu sinto – que o tempo ceifador não me perdoará, nunca. Dói nos dias ruins – dia sim, dia não – perder piratas, sereias, marujos e heterônimos da palavra. E daí? Tudo falta de mim mesmo.   

João Scortecci