Pesquisar

CALIGRAFIA MEDONHA, PROFESSOR DE FRANCO E GUTENBERG

A minha letra hoje é medonha! Feia de doer. Ando comendo letras, devorando o escrito pelo não escrito, algo assim. Vivo dos garranchos da sorte! Até a minha assinatura – trabalhada tecnicamente na adolescência - caiu na desgraça. Bancos e cartórios - e outros - andam reclamando dela. Adianta escrever? Não. Depois de algum tempo, tudo parece poeticamente grego. Nos anos 1980, conheci o calígrafo Antônio De Franco, o respeitadíssimo Professor De Franco. Tinha um interessante método de ensino, que funcionava. Devo ter – perdido em algum lugar - um caderno de caligrafia. Guardo de tudo: perco - quase - sempre! E do nada, vez por outra, acabo encontrando o que não procurava. Acontece. São Longuinho - o santo das “coisas” perdidas deve estar “emputecido” comigo. Um dia, quem sabe, volto aos exercícios de caligrafia. Já disse: vou precisar viver séculos, para realizar todas as singularidades da minha alma inquieta. Nos anos 1990, uma autora de livro sobre grafologia, selo Scortecci – analisando a minha personalidade através da assinatura, confessou-me: Ela diz tudo sobre você! Recomendou-me, então, que colocasse depois da assinatura, um ponto. O ponto - explicou - denota uma pessoa segura, firme, com os pés no chão, autoconfiante e independente. Gostei. Foi o que fiz. Minha assinatura, depois de um longo traço, levemente inclinado pra cima, ganhou um ponto. E pensar que o culpado de tudo - dos meus garranchos ruins - foi Gutenberg, o alemão inventor da prensa de tipos móveis. Dizem - não sei se é verdade - tentava lubrificar a rosca de uma prensa de vinho, quando, iluminado, derrubou no papel da história, óleo de linhaça e negro-de-fumo, caligrafando ali, sinais, traços, letras e ideogramas - vida e morte - do conhecimento singular da humanidade.      

João Scortecci