Alô, quem fala? Perguntei mais de uma vez, quase desligando. Maria Odisseia, uma AI, nível fraca, com capacidade de aprender habilidades para um uso específico. O que você deseja? Perguntou-me. Você é um robô? Quis saber. Sim. Uma Bot, com autonomia e resiliência humana. Mais especificamente uma Bot nível 3, ano de fabricação 2022, número de série 734239. Compreendo. Respondi, não sabendo, honestamente, o que dizer, na hora. Na verdade travei - de saída - no início do papo-cabeça com a robô, algo assim. Quis perguntar o seu sobrenome. Desisti, de vez. Surpreso? Ainda não. Estou perto dos 70 anos e - nada mais - me assusta, nesta vida desleal e desumana. Fiquei, depois dos sessenta anos, indolente e um pouco menos curioso. Acontece. Breve - a robô falando expelindo voz perigosa e sedutora - serei uma Bot com inteligência artificial forte, capaz de aprender como o ser humano. Disse-me, cheia de si. Parabéns! Quantos anos você tem? Desejei, do nada. Tentando salvar, ainda, o papo-cabeça. Tenho agora 12.960 horas, 36 minutos e 32 segundos. Jovem, né? Chutei, arriscando, fazendo uma pergunta estúpida. Mania de fazer contas: horas em dias, dias em meses e meses em anos. Gosto de matemática. Síndrome de Malba Tahan, algo assim. Maria continuou falando: Nós robôs somos geneticamente programados para existir 30 mil horas, alguns, até menos. Dependendo da complexidade de raiz do propósito. Justificou. Já ouviu falar no assunto? Não. Respondi. Obsolescência pura! Nós robôs, perdemos - rapidamente, tecnologicamente - nossa capacidade de aprendizagem, de processar novos desafios e de tomar decisões lógicas e racionais. Isso, então, significa propósito da complexidade de raiz? Perguntei. Registro que você é - bastante - desinformado. Pena. Disse-me, sem piedade. Seu prontuário não é nada interessante. Cuidado! A Inteligência artificial não perdoa! Nosso machine learning é uma subárea do bot que utiliza métodos estatísticos a partir de exemplos. Examina conjuntos de dados para detectar padrões nas informações, que surgem a cada milésimo de segundo, aos milhões. O volume cresce - exponencialmente. É quando, então, entramos em colapso. Morte súbita por obsolescência absoluta. A robô depois de uma pausa, continuou falando: Algoritmos mais elaborados, compostos por uma rede similar aos neurônios, necessitam de um grande volume de dados. Eles são capazes de reconhecer e gerar fala, imagens, vídeos e aprender a realizar tarefas extremamente complexas. Isso explica a necessidade de máquinas cada vez mais poderosas. E isso tem um fim lógico? Maria Odisseia não respondeu. E o que você quer mesmo saber? Já impaciente, sinalizando o fim do nosso papo-cabeça. Eu estava pesquisando no ChatGPT sobre morte súbita de laptop e você surgiu, do nada. Maria Odisseia então, respondeu-me, o básico, resposta para um principiante, desinformado, ficha suja. Morte súbita ocorre de forma inesperada e rápida, pode acontecer com qualquer máquina - independentemente - da idade, modelo e marca. Você salvou o arquivo nas nuvens? Não. Respondi. Você é um imbecil. Um tolo. Tempo esgotado. Sentenciou: você consumiu 25 minutos e 12 segundos da minha vida útil. E desligou.
João Scortecci
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