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O LOBO DAS PALAVRAS E DO SILÊNCIO

Dia distante - além de tudo - e úmido. Espero inerte, de tocaia, pelo Lobo do Esgoto. Ele respira por perto: sujo e perigoso! O corpo ferido, mortal, agoniza no berço da nave das almas. No centro do silogeu. O banco de pau - apodrecido, dorme - no fio da navalha. Perpétuo, sangra. A água fresca da chuva afoga dores, o vidro da janela, o suor de calor que arde no ventre. Não desisto. Raízes - de espinhos - alegram a flor do pântano. Pirilampos, talvez. Cheiro azedo de lua cheia. O lobo do Esgoto canta por perto: faminto e no cio. Voz das trevas. É o vento da noite: que grita. Não desisto, ainda. A biblioteca de livros ladra pecados, versos, histórias e fogo. O Lobo do Esgoto - sombreou-se - no vulto da morte. Eu o vi. Eu o sinto. Algo - sobrevive - no silêncio das palavras: de dentes, fúria e poesia.

Os lobos são mamíferos canídeos. Sobreviventes da Era do Gelo, originário do Pleistoceno Superior, cerca de 300 mil anos atrás. É o maior membro remanescente selvagem da família dos carnívoros. Existem 35 espécies de lobos distribuídas por todos os continentes com exceção da Antártica. Podem ser tanto diurnas quanto noturnas. Vivem em tocas no solo ou em cavidades naturais. A relação de amor e ódio com os humanos é mística, supersticiosa e mitológica. São deuses na mitologia nórdica e estão associados ao surgimento de Roma - alimentando os fundadores Remo e Rômulo. Dentro de nós existem dois lobos carnívoros. Um bom e outro mau. E a dúvida: qual dos lobos alimentamos nas noites de lua cheia. 

João Scortecci