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MATA HARI, A ESPIÃ DUPLA

No olho do dia! E na ordem do sol. “Uma mulher da vida?”. “Sim, mas traidora, jamais!” Foi assim que fiquei conhecendo a história da espiã e dançarina Mata Hari. Na minha infância – lá no Ceará dos anos 1970 – era uma marca de cigarro barato, sem filtro, vendido a granel. Fumávamos no paredão do Colégio Cearense ou na Praça da Igreja do Coração de Jesus. Lá, no breu do paredão, namorávamos as moças e os amores sem nome. A Mata Hari – original – símbolo da ousadia feminina, chamava-se Margaretha Gertruida Zelle (1876 – 1917), uma dançarina exótica, dos Países Baixos, que, durante a Primeira Guerra Mundial, foi acusada de espionagem e condenada à morte por fuzilamento. Sua biografia é misteriosa, cheia de tramas, mistérios, amores e aventuras sexuais. Mata Hari, aos 16 anos de idade, foi expulsa da escola, depois de ter sido acusada de seduzir e se envolver com um diretor do estabelecimento. Em 1895, com 19 anos de idade, casou-se com o capitão Rudolf MacLeod (1856 – 1928), vinte anos mais velho que ela. O casal, durante alguns anos, morou na ilha de Java, principal ilha da Indonésia, para onde Ma-cLeod, militar que era, havia sido enviado, e lá tiveram dois filhos. Foi em Java que Margaretha aprendeu danças folclóricas balinesas e técnicas sexuais orientais, que lhe proporcionaram – anos mais tarde – fama como cortesã de luxo. Em 1902, de volta à Europa, o casal se separou, e Margaretha foi acusada pelo marido de ter levado uma vida libertina na ilha. Em Paris, a partir de 1905, ela estreou na noite, com shows de dança e striptease. Mata Hari usava véus translúcidos e, com sua dança exótica, mexia com a imaginação dos homens. Teve romances secretos com oficiais militares, políticos e empresários da época. Em 1914 – durante sua turnê em Berlim – eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Ela era, então, amante de Eugen Kraemer (Ernest Eugene Kramer, 1889 – 1958), chefe da Inteligência alemã, que a recrutou como espiã, tornando-se a agente H-21, na Europa. De volta a Paris, conheceu o capitão Georges Ladoux, oficial da contraespionagem francesa, tornando-se agente dupla, passando a vender informações secretas para os dois lados da guerra. Em 13 de fevereiro de 1917, foi presa pelas autoridades francesas, em seu quarto no hotel Elysèe Palace, em Paris. Antes de ser levada presa, pediu que lhe dessem tempo para tomar banho e mudar de roupa. Depois de alguns minutos, saiu do banheiro completamente nua e oferecendo chocolates a seus captores em um capacete prussiano. O estratagema de tentar escapar, não funcionou. Foi acusada de espionagem, de ser uma agente dupla e de ter sido a causa da morte de milhares de soldados. Foi executada por um pelotão de fuzilamento, em 15 de outubro de 1917, aos 41 anos de idade. A lenda sustenta que o esquadrão de fuzilamento teve de usar vendas nos olhos para evitar que os soldados sucumbissem ao seu charme. No entanto, os fatos comprovados são que ela se recusou a ter os olhos enfaixados e, antes de ser alvejada, lançou um beijo de despedida aos 12 soldados da guarda. Apenas quatro tiros a atingiram: dois em suas pernas e dois em seu peito, um deles atingindo o coração, causando sua morte instantânea. Seu corpo foi dissecado e usado para as aulas de anatomia – prática comum com os executados na época. Sua cabeça foi embalsamada e permaneceu no Museu de Criminosos da França até 1958, ano em que misteriosamente desapareceu. Dizem que, vez por outra, aparece nua, nos stripteases das noites parisienses, no corpo sensual de uma dançarina balinesa, alvejando com beijos de amor os homens soldados da guerra. No olho da noite e na ordem da lua.

João Scortecci