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ALEXINA PINTO E O SILÊNCIO DA LOCOMOTIVA

O trem apitou – avisando que estava passando – e de nada adiantou. A educadora e escritora Alexina Pinto, surda desde os 45 anos de idade, foi atropelada pela locomotiva – em 17 de fevereiro de 1921, com 51 anos –, no distrito de Corrêas, em Petrópolis/RJ. Alexina Leite de Magalhães Pinto (1869 – 1921) era descendente de uma das mais tradicionais famílias mineiras, da cidade de São João Del-Rei. Pioneira nos estudos do folclore e revolucionária em seus métodos de ensino, com apenas 20 anos de idade Alexina partiu para Europa e, durante o tempo que lá ficou – pouco mais de um ano –, fez cursos, na Itália, Espanha, Portugal e França, sobre novas técnicas de ensino. De volta da Europa, trouxe na bagagem uma bicicleta e roupas de ciclismo, para espanto da sociedade conservadora são-joanense. Em 1896, sem espaço, perseguida e criticada devido aos seus métodos de ensino nada convencionais, mudou-se de São João Del-Rei para a cidade do Rio de Janeiro, onde permaneceu, dando aulas, por mais de 20 anos, até perder a audição. Alexina Pinto rompeu paradigmas ao substituir os castigos físicos por tarefas intelectuais. Proibiu o uso da palmatória em sala de aula, substituindo-a por exercícios de memória: trava-línguas, declamação de poesias e cantigas do folclore nacional e regional. Publicou cinco livros: “As nossas histórias”; “Os nossos brinquedos”; “Cantigas de criança e do povo e danças populares”; “Provérbios, máximas e observações usuais” e “Cantigas das crianças e dos pretos”. Colaborou assiduamente no “Almanaque Brasileiro Garnier”, editado pela Livraria Garnier do Brasil, que circulou de 1903, sob a direção de Ramiz Galvão, até 1906 e, daí em diante, foi dirigido por João Ribeiro, até 1914, quando deixou de circular. Alexina Pinto é referência, entre outros, no “Dicionário do Folclore Brasileiro” do historiador, musicólogo, antropólogo e folclorista Câmara Cascudo (Luís da Câmara Cascudo, 1898 – 1986), como a primeira brasileira a valorizar a cultura tradicional do seu povo. O trem apitou e de nada adiantou. 

João Scortecci