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ESCORREITO E AS BOLINHAS VERMELHAS DA PAIXÃO

“Escorreito” palavrinha danada de interessante. Anotei - faço isso sempre - e fui atrás. Significa: que tem apuro, que é correto, que não tem defeito, falha ou lesão. Encontrei a danada da palavra no texto do prefácio “Fisgado pelo jornalismo”, escrito pela jornalista Vera Brandimarte, ex-diretora do Jornal Valor Econômico, no livro “Os melhores jornais do mundo” do jornalista Matías M. Molina. Prefácio muito bem escrito. Respeitoso. Quase uma nota biográfica sobre o autor e sua carreira no jornalismo econômico. No terceiro parágrafo do prefácio Vera Brandimarte, lembra uma das marcas “inconfundíveis” do jornalista Matías M. Molina: “o lápis vermelho, usado para circular os erros do jornal do dia, com tanto apuro que, invariavelmente, nos remetia ao nosso tempo dos bancos escolares, quando a avaliação nos era devolvida pelo professor coberta de sinais reveladores da nossa ignorância.” Voltei, então, no tempo, no Ceará dos anos 1960. Professora Rosa, dizia sempre: “Até três bolinhas vermelhas tudo bem!” Vivia no limite! Lembro-me do dia que recebi - de volta - uma redação sobre “o que fiz nas férias”, algo assim, com cinco bolinhas azuis. Fiquei feliz! E, sem pestanejar, tratei logo de tirar proveito do elogio. “Cinco bolinhas azuis?” Professora Rosa, surpresa, respondeu-me, na batuta: “É que eu esqueci minha caneta vermelha em casa!”. Tristeza. Eu tinha 10 anos de idade e excitação pelo cheiro de seiva de alfazema. No seu aniversário de vinte e poucos anos - 25, talvez - levei de presente uma maçã, na época, uma raridade no Ceará. “Luiz, compra uma maçã, não vê que ele está apaixonado pela professora!” E assim foi. Maçã do bem e do mal, amor platônico, correto, sem defeito algum, falha ou mordida. Um amor escorreito, fisgado de paixão e bolinhas vermelhas. 


João Scortecci